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A ausência do ego, o barco vazio



Passamos praticamente a vida toda buscando preencher nosso vazio existencial na vã tentativa de obter o todo, no entanto traçamos rotas totalmente opostas, quanto mais adquirimos bens materiais e status, mais vazios ficamos. Isso decorre por não termos ainda assimilado que o nada é a soma do todo e o todo por sua vez a soma do nada. Parece estranho, mas o vazio só é preenchido com o nada. A grande sandice está em desejar preencher o não palpável com bens materiais, pois o psiquismo, a alma, tem sede e fome de sabedoria e desapego, virtudes que segundo Osho, desaguam no nada.

Osho em “O barco vazio”, conta a bela parábola de Chuang Tzu, sobre o homem que abalroou seu barco a outro barco vazio e mesmo sendo mal-humorado não ficou irritado, pois não havia ninguém no leme, ninguém a quem magoar e ofender. Em outra ocasião o mesmo barqueiro chocou-se com outro barco, no entanto, este barco tinha um homem dentro, o qual reagiu ao ser achincalhado, humilhado e destratado pelo barqueiro ranzinza.

Para Osho, o barco vazio é a ausência do ego. Sofremos porque revidamos a todas as provocações, além de trazermos junto de nós a vaidade, a ambição, a ostentação, o egoísmo, o orgulho etc., que tornam nosso barco cheio, obrigando-nos a estarmos nele. Esvaziar o barco se torna necessário a quem deseja adquirir sabedoria e paz, caso contrário continuaremos esbarrando em outros e culpando-os por nossa imprudência e negligencia ao conduzir o leme de nossa própria embarcação.

O barco vazio de Osho fez-me rememorar a parábola do mestre samurai que foi desafiado por um jovem e arrogante espadachim com o fim de tirar do velho mestre o título de maior samurai do Japão Imperial. No dia do duelo, o velho mestre samurai se posicionou e ficou imóvel, nada o perturbava. O jovem espadachim, vendo que o mestre não desembainhava sua espada, começou a irritar-se, com o passar do tempo foi ficando mais nervoso a ponto de cuspir no rosto e ofender os ancestrais do mestre, mas o mesmo permaneceu imóvel. Depois de horas, totalmente esgotado o jovem desistiu. Os discípulos do velho mestre desapontados pela falta de reação e indignados lhe perguntaram por que não reagiu a tantos insultos. O velho samurai esperou todos falarem e então lhes perguntou: quando alguém nos oferece o melhor que tem e não aceitamos, com quem fica o presente? E todos responderam: com quem queria dá-lo…

O corpo do velho samurai estava presente no duelo, mas ele, sua mente não estava, seu barco estava vazio, seu ego não estava lá. O jovem samurai não conseguiu golpeá-lo, pois se sentiu um tolo ante o velho samurai. O velho mestre havia se tornado um abismo insondável, a profundeza de sua sabedoria estava constituída do todo e do nada. O jovem desafiador aproximou-se do abismo do velho samurai e foi engolido, desapareceu nele, sentiu-se diminuído, pois não achou o que golpear com sua espada, o corpo do mestre estava lá, mas sua mente não estava.

Para Osho, quem é movido pelo ego não deve aproximar-se de um sábio, pois o sábio é apenas uma presença, um barco vazio, um abismo que faz desaparecer o ególatra que se aproxima dele. Quem se aproxima de um sábio com seu ego, sente-se diminuído, enciumado e fará de tudo para atingi-lo, feri-lo, mas sem forças percebera que não há como tocar o fundo de um abismo. Para o místico indiano, o que temos de buscar constantemente é esvaziar nosso barco para que possamos alcançar a sabedoria, a paz e a tranquilidade ao transitarmos pela vida.

 
 
 

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