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A culpa é dos meios ou do homem?






Marshall McLuhan na década de 60 apresentou ao mundo uma teoria que ficou popularizada como  Aldeia Global, referente a grande interação que os meios de sua época estavam causando, principalmente a televisão que depois do rádio encurtou ainda mais distâncias através da voz e da imagem.

O filósofo em sua teoria apontava que nos primórdios da civilização tudo era tribalizado, o comunicar reduzia-se a aldeia, com o advento da imprensa as relações sociais se destribalizaram, mas com a invenção da eletricidade e os meios de comunicação as relações sociais voltam a ser tribalizadas, mesmo estando os humanos dispersos, ouviam e viam a mesma coisa ao mesmo tempo como se estivessem todos em um mesmo lugar. Alguns anos depois a internet é que veio vestir-se como protagonista, pois encurtou ainda mais as distâncias, aproximando as pessoas distantes espacialmente sem que para isso saíssem de seus lugares, por outro lado aumentou a distância afetiva das pessoas que se encontram num mesmo plano espacial.

Nunca se soube tanta coisa em tão pouco tempo. Um brasileiro atualmente pode entrar na casa e na vida de um chinês indiretamente em menos de um segundo, como também pode realizar esta interação com qualquer outro humano conectado na grande Aldeia Global de McLuhan.

Ao menos digitalmente quase não há mais fronteiras, o longe se tornou perto, bocas ganharam ouvintes e olhos estão enxergando mais longe, as relações interpessoais não possuem mais uma mão única, mas dupla, onde todos tem a oportunidade de se manifestar. No entanto, está havendo um preço por essa “liberdade” de expressão, é o esquecimento silencioso de nós mesmos, pois estamos dia a dia mais distantes de nossa própria vida levados por um consumismo material que consome o imaterial das relações sociais.

A Aldeia Global de Macluan está estabelecida, mas não amadurecida é uma adolescente em busca de uma identidade sólida. Ainda se perde dentro de sua precípua ingenuidade e desencontro. Por não possuir uma identidade, aceita tudo, o que a torna um território livre. Em uma analogia proximal com o desbravamento do velho oeste americano onde o que prevaleceu nos primórdios foi o calibre 44, na Aldeia Global prevalecem o narcisismo e a exposição exacerbada do grotesco, uma opera bufa.

Dentro do contexto evolutivo não estamos preparados para processar e vivenciar tantas experiências e informações distendidas na velocidade e forma como vem sendo processadas e replicadas. Devido a essa imaturidade os mecanismos e ferramentas estabelecidos na estrutura das mídias e novas tecnologias tornaram-se armas, que atingem não o corpo físico, mas o corpo psíquico que por sua vez refletirá no primeiro. Num inverso com o que ocorre com uma arma concreta virar brinquedo nas mãos de uma criança que não possui maturidade para discernir para que serve, as mídias sociais, estabelecidas como um brinquedo para distração e entretenimento estão virando armas contra o próprio usuário.

O ser humano numa concepção nietzschiana “inventou o conhecimento e ainda não sabe para que serve”, enquanto constrói redes num vazio abstrato de inter-relações, onde o sujeito está a cada dia mais dependente de um objeto, aos poucos rasga o próprio tecido social na sua mais essencial e básica forma do comunicar emoções que é o tocar, o abraçar, o sentir, o contemplar… Nossa capacidade de reunirmo-nos para a obtenção do calor humano e assim aplacar a solidão, agora em uma total contradição está sendo trocada pelo culto ao isolamento, ação que pode ser percebida em uma alucinada ilusão de estar acompanhado por alguém que não está ao lado, mas na tela de um objeto eletrônico.

Dentro de o processo de cultuar nós mesmos nesta Aldeia Global, estamos nos tornando lacônicos, narcisistas e segundo Zygmant Baumam, moldáveis e descartáveis, nossas relações estão perdendo seu valor intrínseco sufocado e chantageado pelo mundo exterior. Mesmo assim, pouca importância se dá a estas observações, justamente por estarmos demasiadamente concentrados em nós mesmos. E  assim, estamos tornando ficção em realidade, enquanto que aos poucos caminhamos em direção ao Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, um mundo frio e desprovido de emoções.

 
 
 

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