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A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche


A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

Como seres predominantes na Terra, chegamos ao século 21 a um total de 40 bilhões de indivíduos, somando os existentes e os que existiram em toda história da humanidade. Desse montante é impossível haverem existido dois humanos iguais. Do ponto de vista biológico, somos únicos, prova disso é nossa voz, as digitais e olhos. Mesmo assim, em algumas pessoas existe uma vontade latente de terem para si a vida de outras e até mesmo projetarem suas frustrações nelas. Aqui deparamo-nos com o maior obstáculo da auto-estima, a inveja…

É natural e mesmo inevitável que o homem, na contemplação do prazer e da propriedade alheios, sinta amargamente sua própria carência; apenas, isto não deveria erguer seu ódio contra o felizardo, mas precisamente nisto consiste a inveja. (…) quando a inveja é produzida somente pela riqueza, posição social ou poder, freqüentemente é atenuada pelo egoísmo considerando que, do invejado, (…) se pode esperar ajuda, prazer, amparo, proteção, promoção etc., no contato com ele, iluminado pelo reflexo de sua distinção (…) Porém, a inveja orientada para as dádivas naturais e vantagens pessoais como é a beleza para as mulheres e o espírito para os homens, para esta inveja não há consolo; nada mais lhe resta senão odiar os assim privilegiados. (…) da sua escuridão, o invejoso lançara sobre o invejado a censura, o escárnio, zombaria e calúnia, igual ao sapo que do interior de um buraco lança o seu veneno. [1]

A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

A inveja é histórica e perturba-nos a milhares de anos. Foi ela que levou Sócrates a beber cicuta, por sua maiêutica ter despertado os jovens atenienses para o livre pensar, tornando-os criadores, o que irou os que não aceitavam novos conceitos sobre uma mentalidade desgastada. Foi essa mesma inveja que levou Alexandre o Grande a morte, envenenado por ser inadmissível alguém tão jovem e audacioso ter construído um império da magnitude como foi o construído por ele.

Não há vício de que um homem pode ser culpado, nenhuma maldade, nenhuma baixeza, nenhuma indelicadeza que excita tanta indignação entre seus contemporâneos, amigos, vizinhos, como o sucesso. Este é o crime imperdoável, que a razão não pode defender nem a humildade mitigar. A genialidade é obrigada a pedir perdão. [2]

A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

A inveja , creio, nasce da impotência em atingir nossos projetos que vimos realizados em outros. A projeção de nossas esperanças e ambições nas pessoas realizadas e de coragem sublime, atordoa-nos, inquieta-nos e leva-nos as mais insanas atitudes.

“Viver é essencialmente apropriação, violação, dominação do que é estrangeiro e mais fraco, opressão, dureza, imposição da própria forma, incorporação e pelo menos, no mais clemente dos casos, exploração (..) quererá crescer, se estender, açambarcar, dominar, não por moralidade ou imoralidade, mas porque vive”.[3]

A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

A raiz dessa mácula está na “igualdade” disseminada aos quatro ventos como se essa abstração fosse uma realidade. Não é. Somos todos diferentes. E essa diferença é o que nos faz únicos. No entanto, a maioria das pessoas passa a vida desejando ser igual, ter o que o outro possui, sem ao menos levar em conta como foi que esse outro conquistou o que tem, seja no campo abstrato e/ou material.

“Julgar e condenar moralmente é a forma favorita de os espiritualmente limitados se vingarem daqueles que o são menos, e também uma espécie de compensação por terem sido descurados pela natureza […] No fundo do coração lhes faz bem que haja um critério segundo o qual mesmo os homens acumulados de bens e privilégios do espírito se igualem a eles – lutam pela “igualdade de todos perante Deus”, e para isso precisam crer em Deus. ”[4]

A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

O que podemos testemunhar na sociedade ocidental é a fomentação da inveja através da propagação do auto-engano de que somos todos iguais e merecedores dos mesmos direitos. O que existe na verdade segundo Nietzsche é a existência do forte e do fraco, sendo que este último é antítese do primeiro. O fraco tem intrinsecamente uma chaga que sangra diuturnamente, é sua inveja, que covardemente esconde atrás de uma imagem de humildade, ou seja, é “alguém que muda de cor para melhor confundir-se com a paisagem”. E essa fraqueza é compensada pelo julgamento que faz dos pensadores que são o inverso de sua fragilidade, isto é, os portadores de vontade e poder. Para isso, o espírito de rebanho usa o amor – sem mesmo conhecê-lo- e sua crença em um Deus dicotômico, situado em dois mundos, o da maldade e o da bondade para julgá-los.

“Tanto se precisa do Deus mau como do bom […] quando um povo entra em colapso; quando sente esvair-se para sempre a fé no futuro, a sua esperança na liberdade […] há também que mudar o seu Deus. Torna-se agora sonso, medroso, humilde, aconselha a ‘paz da alma’ […] Moraliza constantemente […] faz-se o Deus de toda a gente [..] Outrora, representava um povo, a força de um povo, tudo o que de agressivo e sedento de poder existe na alma de um povo: agora é simplesmente o Deus bom… De fato, não há para os deuses outra alternativa: ou são a vontade de poder – e enquanto o forem serão deuses de um povo – ou são a impotência do poder – e então tornam-se forçosamente bom(…)”[5]

A inveja sob a ótica de Schopenhauer e Nietzsche

Os espíritos do atraso não aceitam que aquele Deus antropomorfo, o Deus dos exércitos, que oscilava entre a bondade e a maldade, morreu. Morreu porque em meados do século XIX, após a publicação de Darwin “Origem das espécies” ele perdeu o seu posto de criador. Mas, o homem vendo a vida sem seu Deus, sente que ela fica sem sentido e sem perspectivas. Como o homem precisa de um escoro para percorrer os labirintos da vida, foi preciso reinventá-lo como um Deus abstrato. Nasceu assim, a nova fase do niilismo. Uma nova fase de negação da vida pregada por Platão em seu mundo ideal ao negar a vida aqui agora. Filosofia que a igreja em sua gênese apropriou-se para adoecer e escravizar o homem com a promessa de um fausto além vida. O homem como fiel depositário dessa esperança, torna-se ressentido, impotente, intolerante, fanático e um invejoso diante dos espíritos fortes e intrépidos.

OBS: A morte de deus, é vista por Nietzsche como a morte dos dogmas, a libertação do homem e o afastamento de seu conformismo. Para que o homem assim, busque superar-se transferindo a antiga fé em deus para si mesmo. Referencias Bibliográficas Nietzsche, F.W. “O Anticristo”, Editora Escala, São Paulo, 2005 Nietzsche, F.W. “Além do Bem e do Mal”, Editora Escala, São Paulo, 2005. SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga e Paralipômena In Coletânea de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

——————————————————————————– [1] SCHOPENHAUER. Parerga e Paralipômena. Pág 198-199 [2] Idem Pág 199 [3] NIETZCHE. Para além de bem e mal § 259. [4] Idem, § 219, p. 125 [5] NIETZSCHE. O Anticristo, §16, pp. 29-30

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