A prostituição moral
- Davi Roballo
- 5 de fev. de 2008
- 2 min de leitura

Tenho para mim, que um homem só pode considerar-se verdadeiramente livre e honesto para consigo mesmo, após entender as verdadeiras intenções de tudo o que está por detrás dos rituais humanos. Como por exemplo, o culto a autoridade e a prática religiosa baseada somente na suposição metafísica, mesmo que de forma recôndita, alimentada e escravizada pela coerção e sanção imposta desde há muito pelo Estado e pelas igrejas. Ou seja, o cerceamento da dita “liberdade” que cultivamos, mas, no entanto distanciamo-nos a cada passo, em direção da submissão cega e imposta.
Nos dias atuais, nota-se, que são poucos os que conseguiram livrarem-se dessas algemas virtuais, que têm como antídoto a boa leitura e a busca incessante pelos fragmentos da verdade, ainda que ela não exista de forma ortodoxa, por se tratar de uma construção infindável, tornando-se a cada manhã, para quem a busca, algo mais longe de ser alcançado. Porém, se conquista mais um degrau, de onde se pode observar a prostituição moral que conduz nossos dias.
No entanto, a angústia ronda o âmago de quem conquista tal ponto, visto que aos olhares da platéia, torna-se indiferente, polêmico e excêntrico, quando na verdade, apenas está a desvestir-se dos pendores imprescindíveis para rebanho. Nesse contexto, quando se debruça sobre este assunto de forma responsável e desapaixonada, mil incógnitas farfalham no pensar, instigando ao nosso repertório de vida a indagação: como se processa esta prostituição? E tateando como um cego em meio a escuridão de nossa ignorância encontramos um pequeno lume, que através de sua centelha, enfático nos chama a razão: Ora, ao passo que te sujeitas a não mais expressar suas opiniões e idéias, que confrontam com as que conduzem as instituições a qual estás inserido, violenta-te moralmente, ao aceitar a barganha em não expor suas concepções, em troca de condições e benefícios que corre o risco de perder, se agir de tal maneira.
Assim sendo, ages como as mulheres de vida fácil, que se sujeitam a todo tipo de homem, por dinheiro. Mas, a prostituição moral é na verdade algo ainda pior, a ponto de colocar quem se sujeita a ela, abaixo da reputação dessas mulheres, pois elas têm um tempo determinado de atuação, enquanto que na prostituição moral, muitos se chafurdam pela vida inteira.
No desenrolar de nossas relações humanas, há uma hipocrisia descabida. Somos avaliados pelo que representamos e não pela autenticidade, que tratamos de exilar em nossa inconsciência. Sem falar que a traquinagem, a cada dia se aperfeiçoa, tendo a seu serviço a sovinice e a vilania de sentinelas a cada esquina, tramando de forma subterrânea o amordaçamento de quem pretende estrangulá-la…
Estamos tão habituados a isso, que não percebemos o quanto de ovelha, hipocrisia e tolice há em nossas ações. Principalmente quando alguém massageia nosso ego, nos situando num patamar, além de nossas pernas, logicamente atreladas a segundas intenções, aspecto tão comum no meio político a ponto da vergonha envergonhar-se de nós mesmos. Nesses atuais dias a mentira sai das calhas subterrâneas de esgoto, para caminhar altiva conosco pelas ruas, e os responsáveis por este nefasto passeio… somos nós mesmos.
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