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A tragédia da família Famelicus




Numa determinada cidade na fronteira oeste do sul do Brasil, inicio de mês era sinônimo de festa na residência da família Famelicus. Quem passava pelo prolongamento das casas da via férrea, próximo a estação de trem nos primeiros dias do mês podia observar a movimentação na casa amarela, não importava o horário, se de dia ou à noite. Pipoca estourando, bife fritando, pão assando, liquidificador preparando vitamina, outro batendo gemada, assim prosseguiam os Famelicus até acabar a compra mensal, que geralmente durava quatro dias e o restante do mês as nove pessoas que habitavam o casebre amarelo, passavam comendo arroz branco com farofa.


Nesse ambiente cresceram Amauri e Amarildo, gêmeos e filhos mais velhos da família. Na pré-adolescência realizavam pequenos roubos pela vizinhança a fim de comprarem para os dois, comida que fosse diferente de arroz e farinha. Especializaram-se em roubar vagões de trem que traziam mercadorias para supermercados e para o exército, sem violar os lacres, revendendo a mercadoria para receptores na vizinhança, sendo a maioria donos de pequenas mercearias. Aos 18 anos com o dinheiro proveniente das mercadorias roubadas e de outras traquinagens compraram um Landau e um Maverick, os quais descaracterizaram os tanques aumentando-os para caber mais gasolina. Assim adentraram no mundo do contrabando de combustível argentino.


Aos 21 anos tinham oito carros alterados transportando diesel e gasolina e um barco que nas madrugadas cruzava o rio transportando cebola, batata e lança-perfume que despachavam para todo o país. Nessa época mudou-se para a casa vizinha uma argentina que se chamava Estelita. Desde que Estelita apareceu na vida dos irmãos as coisas começaram aos poucos a mudar. Amarildo encantou-se com Estelita desde o dia em que a viu, mas ela escolheu Amauri com quem depois de 10 meses de tumultuado namoro foi morar junto para desespero de Amarildo.


O tempo passou e Amarildo se conformou com a situação mesmo amando Estelita, que sabia do sentimento do cunhado e tendo oportunidade discretamente o provocava.


Em meados da década de noventa devido a contatos em São Paulo com quem negociavam lança perfume, levaram para a cidade o crack, até então novidade pelo efeito e baixo preço. Fizeram sucesso vendendo a nova droga, tanto que os cuidados que tomavam antes foram esquecidos e como consequência foram parar atrás das grades. Perderam quase tudo que tinham arranjado até então, mas ficaram pouco tempo na cadeia.




Certo dia no aniversário do velho Famelicus, após uma manhã de bebedeira e vários cigarros de maconha, Estelita olhou atrevidamente para Amarildo, Amauri notou e no mesmo instante a derrubou da cadeira com uma bofetada na boca, que instantaneamente sangrou cuspindo ao chão dois pares de dentes.  Amarildo ainda com o espeto e faca que havia cortado um naco de carne para Estelita, instintivamente se jogou para cima do irmão e lhe desferiu três facadas as quais foram retribuídas com quatro tiros de um 38 que Amauri ainda conseguiu puxar da cintura e encostar  na barriga de Amarildo antes de suspirar três vezes e três vezes jorrar sangue pela boca. Não se mexeram mais os irmãos, morreram grudados, como grudados sempre andaram, morreram por terem amado a mesma mulher. Quanto a Estelita, ninguém mais a viu…

A tragédia da família Famelicus

 
 
 

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