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As ilusões do ensino superior





Foi-se o tempo em que as universidades formavam o homem. Na virada do século XIX para o século XX, a nascente perspectiva futurista influenciada pela revolução industrial lançou os ocidentais a uma busca de estabilização profissional, isto é, começava a se ter nos bancos escolares uma maior preocupação em formar o profissional, o especialista em detrimento da formação moral, cívica e verdadeiramente intelectual do homem. O mais importante então, passou a ser o preenchimento das lacunas especializadas exigidas pela cadeia produtiva, isto é, o homem foi transformado em máquina.

A universidade há muito deixou de ser estritamente palco de discussões sérias a respeito do viver, da existência, da localização do próprio ser na vida. Hoje, mais imbeciliza e cria ilusão de superioridade intelectual do que prepara o homem para a sua própria existência. Preparar para o mercado de trabalho é prioridade, nem que para isso aja um déficit intelectual, pois o mais importante agora é quantidade e não mais a qualidade, ou seja, a cadeia produtiva dominou também a educação. A universidade está montando e condicionando homens máquinas que estão deixando de viver o presente por estarem de olhos fixados e perdidos no futuro, que por si só é incerto, inalcançável, pois, sempre vai exigir mais.

Jovens quando resolvem adentrar a universidade iludem-se com a perspectiva de tornarem-se facilmente intelectuais.  No entanto, para isso, é preciso basear-se em teorias e hipóteses e ultrapassá-las, reescrevendo-as, afinal, segundo a concepção nietzschiana “não existe verdade absoluta”, mas recortes de realidade e fragmentos de verdade, que, com o tempo e as descobertas podem se agrupar como as peças de um grande quebra cabeça. Ideias que nascem condenadas a serem superadas mais adiante.

A universidade limita as possibilidades de o aluno superar-se, pois, o ensino superior está engessado de uma forma tão sistemática, que é normal os acadêmicos discutirem as teorias e hipóteses, muitas vezes, confundindo os sentidos propostos. Somente as discutem. Não tentam ultrapassá-las e modificá-las, pois para isso é preciso ter um método dizem os mestres, “tens que provar que se trata de ciência, deves especificar qual teórico e qual método vais usar…” para não dizer: “qual teórico e qual método vais usar para bloquear-te a vertente de teus pensares”. A universidade raramente forma “criadores”, pois é mais comum construir  “copiadores”. Além do mais, se tem ainda, a deficiência advinda dos ensinos fundamental e médio, como a dificuldade em abstrair e principalmente a de interpretar um texto, isto é, mesmo na universidade existe o analfabeto funcional.

A defasagem intelectual acarreta a ilusão de que um diploma resolve tudo, que é a panaceia para todos os problemas. Formandos em sua grande maioria passam a conhecer o mínimo do mínimo de uma determinada área e se convencem de ter chegado ao ápice do conhecimento, isto é, adquirem um grão de areia e ostentam seus títulos de bacharéis, licenciados, tecnólogos etc., na ilusão e prepotência de se ter o deserto do Saara no bolso. Quando na verdade, se precisaria de uma eternidade para encher o cavado da mão com grãos de areia como é uma formação acadêmica em relação à sabedoria.

Poucos são os que ultrapassam as barreiras construídas para reter os processos de criação e desalienação e mais poucos ainda, são os que rompem com os diques de inação intelectual. São aqueles alunos que se dedicam a ir além do proposto, os que têm sede de conhecimento, como também os professores que se esforçam paulatinamente para serem marcantes na vida de seus alunos como os professores: Keating (Sociedade dos Poetas Mortos), William Hundert (Clube do Imperador). A universidade não deve formar apenas o profissional, mas também criar mecanismos que desperte nos alunos o espírito crítico, para que raciocinem com lógica e sem influência, isto é, a formação de cidadãos autônomos moral e intelectualmente. Assim, creio, estaríamos a caminho da formação do homem, tanto como profissional quanto como cidadão.

As ilusões do ensino superior

 
 
 

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