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Dias fúnebres


Existem dias nebulosos

Em que à beira da cama

Existe a borda de um precipício

E a porta do quarto

Fica a quilômetros de distância.

Não bastasse tudo isso,

O corpo passa a pesar toneladas…

Dias em que o limite da rua,

A simples calçada parece estar

Noutra galáxia inalcançável

Aos próprios pés que temem

Pisar o abismo a beira da cama.

Dias em que tudo se torna distante,

Sem cor, sem graça, sem gosto…

Mas chega um dia em que tudo

Volta ao seu começo,

Dissipam-se as nuvens

E o sol volta a brilhar no espaço…

Volta o chão sob um tapete

E o cheiro de café

Encoraja o corpo

A mover os pés e pisar no piso,

E no próximo passo a cruzar o vão da porta

Que do fim do universo retornou

E convida-me a ultrapassá-la,

Pois lá fora a vida continua

E o sol brilha indiferente a minha dor.

Em passos incertos avanço

Em direção à rua

E deparo-me com um beija-flor

E uma abelha, e logo penso:

Mergulhado em meu desalento

Quantas vezes ignorei

Sem perceber meu lindo jardim

No qual, agora, nesse exato momento

Um sábia em um galho de roseira

Gorjeia…

Ao me olhar no reflexo da vidraça

Enxergo um gigante reduzido a um pigmeu

E então percebo

Que já é hora de abandonar

As vestes sepulcrais

E dizer mais uma vez:

Sim à vida!

 
 
 

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