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EU E OUTRAS MÁSCARAS

Atualizado: 1 de jul.



Acordei.


Como quem retorna de um naufrágio silencioso. Acordo todos os dias Assim: Perdido em um intervalo sem nome, um interstício de tempo onde não sou ninguém.


Nem sei qual das máscaras me cairia melhor —há dias em que nenhuma se ajusta, outros em que todas colam como epiderme.


Lá fora, um baile de disfarces em plena luz da manhã. Não é carnaval, mas é como se fosse: as fantasias se repetem, os sorrisos são próteses.


Já não se distinguem rostos. Mascarás sobre máscaras, até que a pele esqueça o que era sem elas.


Alguns, coitados, fundiram-se ao artifício —e vivem essa dicotomia grotesca: ser o que fingem ser.


Saio à rua, sou mais um.Me movo entre os apressados com a precisão de quem não quer pensar.


Sou eles. Sou o que resta de mim em meio a eles. Sou o desespero disfarçado de rotina, a identidade dissolvida no expediente, a fuga estética no trivial.


Procuro por mim em todos os espelhos, em vitrines, em passos apressados, mas só encontro rastros —pegadas deixadas ontem por um outro “eu” que já não me representa.


Estou sempre atrás de mim, e sempre chego tarde. Sou a sombra de uma ausência que caminha à minha frente.

 
 
 

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