FOTOGRAFIA 3X4

Tenho pouca sorte para encontrar coisas perdidas, tanto que até hoje não me encontrei.

Quando adolescente, lembro de ter encontrado um envelope pardo com inúmeras fotografias 3x4.

Inúmeros rostos me pegaram de assalto quando abri o envelope.

Minha impressão foi a ter uma parcela das pessoas do mundo em minhas mãos.

Olhei uma por uma e cada qual me passou uma diferente impressão, que saltava dos olhos daquelas pessoas retratadas em pedaço de papel 3x4.

Lembro que tristeza e cansaço foi o que mais senti ao olhar aqueles inúmeros olhos, que pareciam vidraças de vidro blindado de uma prisão.

Em todas as fotos através dos olhos senti que cada animação biológica por detrás da retina suplicava por liberdade.

Foi a primeira vez que me senti preso em um corpo, sensação de que eu era algo maior e mais sútil que minha carne.

Foi nesse dia que percebi sentir diferente.

Passei a ver as imagens reais se transformando em outras imagens metafóricas que pareciam surgir de outra dimensão.

Acredito que geralmente ando na corda bamba que há estendida entre a lucidez e a loucura, tanto que vez por outra a loucura me abraça e me acaricia nos braços cálidos de um poema.

Dizem que os olhos são o espelho da alma, mas acredito que na verdade, eles sejam as vidraças de um cárcere. Por isso poucos conseguem olhar-se diretamente nos próprios olhos ante um espelho.

A bem da verdade, gostamos de ver fotos com rosto, porque sabemos que a fotografia paralisou o tempo, e que não importa a idade do retrato, existe ou existiu uma alma presa atrás dos olhos de uma pessoa enquadrada em uma foto 3x4.