top of page
Buscar

Invisíveis


Entre as várias fantasias infantis que acompanham o ser humano por sua vida está a de ser invisível. Esse desejo de transformar-se em algo não tangível pela matéria e ficar com Giges, que segundo a cultura grega adquiriu essa graça depois de encontrar um anel, -o que tem inspirado vários escritores como J. R. R. Tolkien que escreveu “O Senhor dos Anéis”-, mesmo que não assumamos, faz parte de nossos desejos e fantasias mais secretas.

Essa vontade de invisibilidade talvez se manifeste ante um problema que não desejamos encarar de peito aberto, como também muitas vezes para fugir de nossas responsabilidades, principalmente aquelas que nos cobram um preço maior por nossas escolhas e atitudes.

O que podemos observar, é que não podendo desfrutar da invisibilidade tornamos invisíveis aqueles cujas imagens e situações nos incomodam e talvez mais profundamente nos chame a responsabilidade diante de nossa parcela de culpa por estarem muitas vezes na situação em que se encontram, isto é, da responsabilidade social de cada um diante do Mundo e de seus semelhantes.

As ruas estão lotadas de seres com nome, sobrenome e histórias de vida que carregam um desses tipos de invisibilidade. São os ditos desafortunados que o rolo compressor do progresso deserdou, os desesperançados que desistiram da caminhada por falta de uma oportunidade, de um conselho e porque não, de que alguém fosse um pouco mais duro com eles a respeito da vida e sua indiferença, mas que me mesmo assim a caminhada deve continuar.

Outros tipos de cidadãos invisíveis são aqueles que prestam sua grande contribuição na manutenção das engrenagens sociais desenvolvendo de forma silente seus trabalhos. Esses estão nas cozinhas, nas ruas limpando-as, nos afazes quase que imperceptíveis, mas base para o bom andamento dos demais.

O interessante nesse mundo de invisibilidade é que, assim como tornamos outros invisíveis há outros que nos tornam também invisíveis. Essa é uma dura realidade, uma peça que nos prega a vida e nos mostra que não somos autossuficientes, pois estamos entrelaçados uns aos outros por cordões de ajuda mútua, fios sociais movimentados por seres na grande maioria invisíveis a nós.

 
 
 

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page