Literatura visionária

Literatura visionária

Grandes escritores que perpassam gerações são aqueles capazes de diagnosticar o social de seu tempo e apontar um prognóstico das sociedades subsequentes. São homens que tornam suas obras imortais pelo fato delas trazerem nas letras um esboço do futuro baseando-se somente no presente.

Vivemos hoje determinados aspectos de uma realidade prognosticada há alguns anos. Atualmente as tecnologias nos escravizam, enquanto os livros aos poucos passam ao status de obsoleto por não conterem o imediatismo que as novas mídias e tecnologias nos oferecem. Além do mais, um livro demanda tempo entre a leitura e assimilação, tornando-se uma necessidade constante o ato da leitura, mas no mundo industrializado e imbecilizado em que vivemos, tempo é o que menos temos. Esquecemos que o pensamento crítico está atrelado a leitura e que sem ela somos vulneráveis a manipulação. Essa idiotização contemporânea Ray Bradbury previu em Fahrenheit 451.

Ao adentrarmos em uma loja ou banco devido à pressa constante, não percebemos o quanto somos vigiados. Quando ligamos a televisão, o radio e/ou abrimos uma revista ou jornal, devido nossa prepotência em nos julgarmos invulneráveis a manipulação, deixamos de perceber o quanto nos manipulam em todos os textos, cores, cenários e contextos. Nunca na história da humanidade fomos tão vigiados e manipulados. Engana-se aquele que tem a convicção de que a internet quebrou os paradigmas e os instrumentos de manipulação, quando na verdade ela própria é uma ferramenta sofisticada e adaptada para o mesmo fim. Emails e celulares nunca foram e dificilmente serão seguros. Todo esse cenário funesto e quase imperceptível foi profetizado por George Orwel em 1984, escrito em 1949, embora trate do futuro dos sistemas autoritários nos serve como uma luva.

Em Admirável Mundo Novo , Aldouls Huxley prevê a manipulação genética para produzir seres humanos destinados a determinados serviços, o amor é livre, ninguém é de ninguém. As crianças são condicionadas desde a tenra idade a se conformarem com sua classe social e a obedecerem sem questionar, como também dependendo da classe a que pertencem, aprendem a odiar livros e o pensamento. Todos os habitantes tomam diariamente uma dose de SOMA, uma droga que não os deixa perder o entusiasmo e os ajuda a fugir do cotidiano.

Atualmente devido o avanço em relação ao conhecimento a respeito da genética, já é possível através da inseminação artificial escolher a estatura, a coloração da pele, a cor dos olhos e o tom dos cabelos. No presente a questão sexual está migrando do ato íntimo do relacionamento para o ato banal da relação, ou seja, o que importa é o prazer aqui agora e quanto mais parceiros diferenciados, melhor. Outro ponto  interessante é o farmacológico, nunca os seres humanos tomaram tantas medicações psiquiátricas, seja para poderem dormir, para relaxar quanto para outros males decorrentes da aceleração das exigências e responsabilidades da vida, entre eles a depressão. Em síntese, a vida está tão artificial, que nossas emoções só estão funcionando com intervenções químicas manipuladas artificialmente. 

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