top of page
Buscar

NASCER É COMEÇAR A MORRER



Quando nasci o tempo sussurrou em meus ouvidos: “hoje começa tua caminhada em direção ao teu enterro.” Isso ocorre com todos, o inicio do temor e horror ante ao próprio fim em relação ao plano físico.


A morte nos atormenta, nos aterroriza, porque nos deixa na fronteira de nossas ilusões, pois, esquecemos que já nascemos morrendo.


Cada dia de nossa vida é uma tentativa de sufocar uma verdade inquestionável: aquilo que somos e representamos um dia vai esvair, isto é, vai morrer, vai desaparecer, assim como nosso planeta e nosso sistema solar um dia vão deixar de existir, porque tudo tem um tempo tipificado pelos mistérios.


Quanto mais andarmos por nossa estrada em direção ao envelhecimento, menos certezas temos, pois saber é ter certeza e a vida no seu topo prova que além da morte não há nada de absoluto, tudo se transforma, tudo se adapta, tudo muda, pois a bem da verdade, nada sabemos, apenas nos aprisionamos a certas circunstancias e crenças que aliviem nosso pesar ante a triste realidade de que não somos para sempre.


Nossas convicções nos aprisionam e nos cobrem muitas vezes com a capa da tolice, oportunidades em que nos convencemos da existência dos fatos. No entanto, o único fato que existe por si mesmo é a morte, que cedo ou tarde bate à porta dos lares. O restante é apenas interpretação que cada um faz em relação aos acontecimentos conforme seu nível sociocultural, ou seja, a interpretação das coisas e da vida sempre está em conformidade com a carga de experiências do indivíduo.


Admitindo ou não, cada um de nós está morrendo e a cada dia que passa busca um motivo, um sonho, um desafio para canalizar suas energias de forma que não pense sobre isso.


O tempo vai encurtando a cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês e ano, no entanto, para mascarar e dissimular essa triste realidade temos a cultura do aniversário, o grande truque de nosso inconsciente, isto é, nos fazer comemorar mais um ano de vida, quando na verdade é menos um...


O tempo brinca com bolhas de sabão em nosso próprio jardim, enquanto ri de nossa fragilidade e inocência transvestidas de presunção.


Não há para aonde correr, a vida, esse fenômeno biológico e espiritual é uma sucessão de acontecimentos. Ontem fui filho, hoje sou pai, amanhã serei uma lembrança eternizada em um retrato, assim como meu pai e minha mãe que há muito desapareceram no éter universal.


Assim se desenha a vida através do tempo que avança sem pedir licença, sem se importar com nossas lamurias.


Assim vai o tempo, ceifando sonhos, projetos e ambições, quando chega a oportuna hora. Ninguém consegui ainda impedir ou compreender o que ocorre depois de cruzarmos pelo coveiro, o último elo de nossa corrente da vida, pois isso está revestido de mistério, e o mistério por si mesmo está aí para nos desafiar e não para ser compreendido.

 
 
 

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page