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O COMPLEXO DE HEROTRÁSTO



Atualmente estamos vivendo uma irrealidade tão espessa que não percebemos em um primeiro plano a esquizofrenia social, na qual por vontade própria estamos inseridos.


As janelas do mundo passaram a ficar escancaradas com o advento das redes e mídias sociais. Através de aplicativos instantâneos se pode conectar um outro ser humano no outro extremo do mundo, como se o mesmo estivesse em um mesmo espaço, no qual podemos sem receios exibir nossa vaidade, bem como nossa insanidade em um tempo em que ser insano e iconoclasta dos valores morais e familiares é ser um revolucionário.


A tecnologia certamente nos aproximou espacialmente, no entanto, ao mesmo passo nos distanciou de outros segmentos da vida, sejam eles concretos ou abstratos.


Em tempo algum o umbigo esteve tão em evidência, mas não se trata daquele que nos ligou a quem nos gerou, mas o ponto circunscrito na alma no qual habita o ego.


É bem possível que estejamos atravessando um período em que a futilidade se tornou a grande diretora da vida humana.


Em tempo algum, alguma outra geração usou tanto o espelho, cultivou tanto o corpo, a própria imagem e um falso status, quanto as últimas gerações que vem se intoxicando exponencialmente com a futilidade.


Em tempo algum o ser humano apontou tanto para defeitos alheios na inconsciente intenção de proteger os próprios, assim como também, nunca se cultivou tanto o temor a respeito da opinião do outro, devido a vigente e inegável sensibilidade a críticas que a exposição excessiva gera.


Não se exige muito esforço para perceber que nas relações sociais a empatia vem sendo substituída por uma obsessão exponencial, silenciosa e corrosiva da própria imagem, que exige reconhecimento estético, intelectual etc.


Se tornou mais importante e imediato ser visto e admirado do que ver a si mesmo e muito menos ver o outro.


Essa busca por evidencia é como alguém sedento a procura de água para saciar a sua sede, ou seja, e bem possível que por detrás de toda essa necessidade de exposição, por exemplo, esteja um possível complexo de inferioridade. Por isso o ser humano deseja se sobressair a qualquer custo, seja nas redes sociais ou em seus ambientes de convívio.


Na psiquiatria isso é tratado como "complexo de Heróstrato". Este termo está ligado a Heróstrato, um simples e obscuro cidadão grego que em 356 a.C. ateou fogo ao templo de Ártemis em Éfeso (uma das setes maravilhas do mundo antigo), por nenhuma razão contra o templo, contra a cidade ou contra a deusa, mas apenas pelo desejo de que seu nome estivesse ligado a algo grandioso -mesmo que negativo, até o fim da história humana.


Heróstrato sentia a necessidade de sentar-se na borda da janela do mundo para que todos soubessem de sua existência. Ele desejou ser famoso, não quis ser esquecido, não suportou ser apenas estatística, desejou ter rosto, desejou abandonar a obscuridade para mergulhar no perigoso império do ego.

 
 
 

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