O Desafio do Ensino Superior
- Davi Roballo
- 21 de out. de 2009
- 10 min de leitura
Atualizado: 20 de jan. de 2021
Introdução Neste trabalho dialogamos com autores de forma sucinta sobre a importância do Ensino Superior diante das novas demandas apresentadas na atualidade. Entre essas demandas está a política inclusiva, que pressiona para que a Universidade acompanhe as transformações por que passa o País e o Mundo, a fim de formar agentes de uma sociedade mais igualitária com reduzidas diferenças sociais. Como veremos o Projeto Pedagógico no Ensino Superior é de suma importância, pois constitui-se como referencial para atingir as metas de qualidade almejada, para isso, ele deve ser tratado como um instrumento de gestão e de mudança, principalmente, quanto a necessidade de uma postura ética tanto de professores, quanto de alunos, ressaltando o compromisso social com a comunidade onde estejam inseridos. O desafio do Ensino Superior
Na atualidade em que vivemos, os processos a que somos submetidos exigem um constante aperfeiçoamento, caso contrário, se não acompanharmos e nos adaptarmos a uma nova demanda de conhecimentos, corremos o risco de acordar no dia seguinte em desvantagem diante dos que buscam constantemente aperfeiçoar-se. Todo esse processo e exigências oriundas dos dados gerados pelas avaliações do sistema Ministério da Educação e Cultura, da própria sociedade que no advento do século 21 está imersa nas novas tecnológicas e novos processos culturais, apontam para uma nova postura na formação acadêmica e a docência do Ensino Superior tem a grave responsabilidade de adaptar-se a essa nova realidade. Para Lima (2009, p. 25), a Universidade contemporânea adquiriu mais uma responsabilidade na formação, não mais somente do profissional, mas do homem, do cidadão, ou seja, a função social. A Universidade contemporânea tem um novo papel, inserida nessa nova sociedade do conhecimento, que é a sua função social. A graduação deixa de se limitar a perspectiva de uma profissionalização especializada, para oferecer aos alunos um conhecimento mais abrangente e humanista, que contemple o domínio das conquistas tecnológicas, mas também, as questões da ética que dizem respeito às reações intersociais, à inclusão dos marginalizados a uma vida digna, o combate às diversidades regionais. Segundo Castanho (2000, citado por Orrú: 01), a Universidade, desde seu surgimento até os dias de hoje, assumiu diferentes modelos, dentre os quais destacam-se, no período moderno, o napoleônico, cuja base é o ensino profissional; o idealista alemão, fundado na pesquisa; o elitista inglês, voltado para a formação de elites e o utilitarista norte-americano que tem como objetivo preparar para a ação.
Os tempos atuais exigem uma cultura ampla e criativa, isto é, … a educação, em todos os níveis, precisa de uma nova postura. O ensino tradicional paulatinamente vem dando lugar a práticas alternativas que devem levar ao desenvolvimento global dos educandos e acender o entusiasmo para lutar por uma sociedade diferente, reestruturada” (CASTANHO, 2000, p. 76) Fica claro que a Universidade necessita constantemente adequar-se aos processos de desenvolvimento que giram ao seu redor, principalmente o econômico e o social. Como vimos, elas foram no passado destinadas a formar uma elite aristocrática, ligadas ao utilitarismos, ao idealismo e posteriormente complementadas por uma elite de mérito, e atualmente buscam acompanhar o processo social e tecnológico da contemporaneidade. No entanto, o avanço exponencial em tecnologias, novas mídias e ferramentas de trabalho não estão sendo acompanhadas por sistemas educacionais que realmente preparem os educandos para o mercado de trabalho com mão-de-obra qualificada ao mesmo tempo em que obtenham uma formação cívico-social, evitando assim, a consequente exclusão social, ambos reflexos de um despreparo diante de novas oportunidades e desafios do mundo moderno. Não há como negar que o sistema universitário desde há muito vem sofrendo mudanças e adequações diante os novos acontecimentos, novas descobertas e novas tecnologias. Esse processo é contínuo e exige dos protagonistas, no caso os docentes, a formação continua e atualizada. Deve-se buscar novas formas de interação, deixando de lado as velhas formas engessadas e maçantes de ensinar e aprender, mas tornar a sala de aula um local de interação e acima de tudo integração, onde os atores sociais confundam-se no protagonismo, na interpretação e construção do saber, como deixa claro Lima ao discorrer sobre a segunda dimensão de sustentação do projeto pedagógico: O trabalho de professores e alunos é um espaço prático de produção, de transformação e de mobilização de saberes e, portanto, de teorias, de conhecimentos e de saber-fazer específicos da atividade docente. Urge pensar uma nova forma de ensinar, aprender e pesquisar, que inclua a ousadia de buscar o salto qualitativo do conhecimento científico ao senso comum visando à sua reconfiguração. É importante salientar que a aula não é apenas uma expressão do pensar a ação e do agir. A construção do novo senso comum que surge da própria ação e que transforma essa aula em um ato de solidariedade, de participação e de prazer. (2009, p. 25) A Universidade, desde há muito, tem sido o canteiro onde é semeado o saber desalienante capaz de transcender as barreiras erigidas a fim de manter a massa na inação intelectual. Para isso, tem de a universidade e a sociedade articularem-se diante das questões que as envolvem “sugerindo que posições de neutralidade não impeçam de cumprir a sua missão: a de construir e disseminar conhecimentos e de educar para a vida, unindo a sabedoria e audácia da ação sobre a reflexão” (ORRÚ, p. 02). Segundo Nietzsche, um exercício crítico “nunca foi ensinado nas universidades: mas sempre a crítica de palavras com palavras” (1974, p. 89). O professor, universitário tem papel importante a desempenhar, não prendendo-se somente nas questões burocráticas e formais. Mas criando mecanismos que desperte nos educandos o espírito crítico, para que raciocinem com lógica e sem influência, isto é, a formação de cidadãos autônomos moral e intelectualmente, permitindo que o aluno se posicione, indague e participe do processo de aprendizagem. O professor, mediador indispensável no processo ensino-aprendizagem, precisa estar consciente de seu papel na formação de seu aluno. Tal consciência não é suficiente se somente se prender aos aspectos formais desse processo. É preciso atentar para detalhes que podem de fato fazer a diferença para a elevação do espírito crítico, pois a prática do educador observada por seu aluno é o espelho para sua formação. (ORRU, P. 03) O docente nesse caso tem a responsabilidade de ser um inovador, um agente capaz de transformar velhos conteúdos e velhas fórmulas em temáticas interessantes e atualizadas. No entanto, isso exige dele a criatividade e a motivação para transformar velhos conceitos em novos desafios, O momento atual revela evidências da necessidade de transformações ocorrerem nos âmbitos sociais, políticos e educacionais. É o homem desejando mais do que aquilo que é considerado como básico e suficiente para se viver … (Idem). Segundo Castanho “É preciso que não ensinamos apenas as pegadas de caminhos conhecidos, mas que tenhamos a coragem de saltar sobre o desconhecido, de buscar a construção de novos caminhos, criando novas pegadas” (2000, p. 77). Portanto, o docente do Ensino Superior deve buscar ser marcante na vida dos discentes. Tem de ser aquele que encontra sempre uma forma de despertar o interesse pelo conhecimento e a vontade de ir mais além, ir em busca de encontra-se consigo mesmo e com seus potenciais intrínsecos e vivenciá-los. Certamente, existem muitos outros meios de um indivíduo encontrar-se a si mesmo, escapar ao atordoamento no qual se move habitualmente como se estivesse no interior de uma nuvem escura e de ser ele mesmo, mas não conheço outro melhor que o de se lembrar de seus mestres e educadores. (NIETZSCHE, 1983, p. 45) Segundo Castanho (2000), não se pode desenvolver um bom trabalho em sala de aula sem ter em mente um ideal ou modelo de sociedade, um direção a ser alcançada. A autora refere-se a se ter uma meta a ser alcançada, uma utopia na visão Alves (2006), algo inalcançável, no entanto aponta e orienta a que direção seguir e /ou atingir: Para onde?” Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter ideia do “para onde”. Em relação à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na linguagem comum, é usada como “sonho impossível de ser realizado”. Mas não é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção. Mário Quintana explicou a utopia com um verso de sabor pitanga: “Se as coisas são inatingíveis.., ora! / Não é motivo para não querê-las… / Que tristes os caminhos, se não fora / A mágica presença das estrelas!. (2006, p. 75-76). Isso denota, de acordo com Castanho (2000), que o professor não deve ensinar apenas o que é conhecido, mas despertar a curiosidade e a vontade de desvendar o desconhecido, criando assim novos conhecimentos para servirem de embasamento para construção de outros a serem construídos e descobertos. Ainda de acordo com a autora, há pouca criatividade nos bancos universitários, no entanto a criatividade não parece ser tão fácil, quanto se pensa, pois …podemos afirmar que nossas faculdades são, no geral, pouco ou nada criativas. Desenvolver a criatividade parece ser um objetivo tão simples – consta até mesmo da maior parte dos planos e planejamentos – e é uma das características mais raras de se encontrar na maioria de nossos jovens, educados para a atitude conformista e homogênea que os sistemas escolares os condenam. (CASTANHO, 2000, p. 77) Consequentemente, o trabalho a ser realizado pelo professor universitário sofre também alterações. Torna-se necessário ao professor pensar numa nova forma de ensinar e aprender que inclua a ousadia de … inovar as práticas de sala de aula, de trilhar caminhos inseguros, expondo-se e correndo riscos, não se apegando ao poder docente, com medo de dividi-lo com os alunos e também de desvencilhar-se da racionalidade única”, pondo em ação outras habilidades que não apenas as cognitivas. Torna-se necessário, ainda, que os professores passem a pensar-se como “participantes do desvelamento do mundo e da construção de regras para viver com mais sabedoria e mais prazer. (CASTANHO, 2000, P. 87). O professor universitário deve de ter em mente uma constante busca pelo aperfeiçoamento, deve almejar conteúdos interessantes e atualizados. No entanto para isso se torna imprescindível, criatividade e motivação para romper barreiras entre o velho e o novo. Para Castanho, a questão da criatividade exige “sensibilidade diante do mundo, fluência e mobilidade do pensamento, originalidade pessoal, atitude para transformar as coisas, espírito de análise e síntese e capacidade de organização coerente são as qualidades da pessoa criadora” (2000, P. 85). Segundo Lima, a procura nos dias atuais pelos bancos acadêmicos dá-se pela necessidade e exigência do mercado de trabalho de mão de obra qualificada e conquista de espaço na sociedade. Sabemos que hoje as pessoas procuram na Universidade o conhecimento, ou seja, a base para uma educação. Mas, por que o procuram? Para seu crescimento pessoal, sua felicidade e deleite interior? Acredita-se que é por isso também, mas principalmente para a conquista de um espaço neste mundo, na sociedade no mercado de trabalho. (2009, p. 26). Daí a importância do projeto pedagógico direcionado a não só formar o profissional, mas o homem enquanto cidadão e agente social crítico e atento aos acontecimentos do mundo a sua volta. O sujeito capaz de produzir um repertório de leitura e interpretação de mundo. Para isso, o projeto pedagógico deve optar por ações perenes. Ações que realmente possam colaborar na transformação da sociedade, principalmente em relação aos direitos civis, políticos e sociais dos indivíduos e suas comunidades. Para atingir esta meta deve ser muito bem elaborado e estar em consonância com a realidade e o contexto onde será desenvolvido, e o mais importante, tem de ser vivenciado, não pode ser algo apenas exibido. Não vamos perder nosso tempo na elaboração de um “guia turístico”, mas de um mapa de orientação. De nada adianta construir um belíssimo plano apenas com a finalidade de apresentá-lo quando for solicitado, para atender às exigências de organismos ‘ burocráticos, ou um bonito folheto para atrair consumidores de “nosso produto”. O projeto não é algo que é feito e em seguida “mostrado”. Ele é vivenciado desde o primeiro momento como parte da dinâmica da prática dos educadores. Nele, sem dúvida, entra a provisoriedade, porque não temos apenas certezas, e porque devemos contar com eventuais interferências de alguns elementos do próprio contexto. Mas nele entra também a esperança, que conta mesmo com a incerteza (quando tenho certeza “absoluta”, não preciso ter esperança), mas que a ela alia a ação, o empenho para a construção do trabalho. Por esta razão, quando nos estamos referindo à esperança, não pensamos numa atitude de espera, de imobilismo como vemos em algumas situações. Não se trata de esperar por uma Escola melhor, mas de, utilizando os recursos de que dispomos e que vamos construindo, planejar e encaminhar desde já o esforço na busca de uma direção competente de nossas escolas. (RIOS, 1992, P. 75) Isso implica ações educativas estendendo-se à formação cidadã. Ações que devem estar em conformidade com a atividade-fim das universidades, formando profissionais-cidadãos, sem descuidar das questões científicas e tecnológicas e que sejam coerentes com o contexto social. Nossos alunos precisarão aprender à iniciação a pesquisa e aos trabalhos científicos, a fazer investigação de caráter básico, a socializar esses conhecimentos, a desenvolver competências e atitudes que lhes permitam analisar e discutir criticamente a ciência e suas soluções para os problemas da humanidade como hoje se apresentam, e a tomar decisões com responsabilidade de profissionais competentes cidadãos. (MASETTO, 2002, citado por LIMA, 2009, P. 29). Segundo Lima, a qualidade dos cursos de graduação estará ligada a capacidade dos professores e alunos em assumir o desenvolvimento de aprendizagem exigido profissionalmente na atualidade. Para isso, a sala de aula deve transformar-se num canteiro de dúvidas, perquirições, discussões, cultura e investigações. A sala de aula universitária para realizar suas tarefas básicas de pesquisa, de ensino e de extensão, precisa da leitura e da escrita como instrumentos fundamentais de atuação. Lugar de tempo e espaço de aprendizagem dos sujeitos do processo de aprendizagem: professor e alunos – juntos, realizam uma série de interações: Discutir e debater; Consultar e pesquisar; Solucionar dúvidas; Orientar trabalhos de investigação e pesquisa; Oficinas e trabalhos de campo; Projetos; Elaboração científica dos resultados dos projetos; Interferência no meio social, provocando mudanças (2009, P. 29). Percebemos que na Universidade, quando se trata de ciência, o ensino deve perpassar pelo debate científico, pela realidade brasileira e diferenças regionais, compreendendo assim as realidades sociais. Nisso, podemos observar o quanto o currículo e o projeto pedagógico dos cursos devem estar relacionados ao perfil do aluno que a Universidade pretende formar. Conclusão Podemos observar no desenvolvimento deste trabalho, que são poucos os docentes a balizarem-se por projetos pedagógicos, e que a grande maioria ignora sua suma importância para a formação do profissional cidadão. Vemos como solução o emprego de seminários, colóquios e estágios sobre Projeto Pedagógico Institucional, além da formação continuada dos docentes, principalmente o coordenador de curso, para que ambiente-se ao seu papel como protagonista de um processo que tem sérios reflexos na sociedade onde está inserido. Percebemos também que o maior desafio do docente no Ensino Superior é despertar no aluno o interesse e participação efetiva nas discussões. Percebe-se ainda, que a dificuldade estende-se principalmente pela seara metodológica, principalmente a falta de dinâmica em como repassar conhecimentos. Diante disso, a docência do Ensino Superior no contexto geral necessita de novas posturas e comprometimentos na formação educacional do aluno. Referências Bibliográficas ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo; Loyola, 2006.
CASTANHO, Maria Eugênia. A criatividade na sala de aula universitária. In: VEIGA, Ilma Passos, CASTANHO, Maria Eugênia. (org.) Pedagogia Universitária: a aula em foco. Campinas, SP: Papirus, 2000.
LIMA. Terezinha Bazé de. Metodologia do Ensino Superior: Teoria e Prática do Fazer Docente.Projeto Pedagógico de curso e suas articulações com a sala de aula universitária. Nota de Aula 03. Unigran, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich Obras Incompletas.Tradução: Rubens RodriguesTorres Filho. Coleção Os Pensadores, 1ª ed. São Paulo:Abril Cultural. 1974
____________. Schopenhauer como educador In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Páginas Eletrônicas
ORRÚ. Silvia Éster. O Compromisso Institucional daUniversidade com a formação de professores. Disponível em http://www.campus-oei.org/revista/deloslectores/872Orru.PDF Acesso em 18 de setembro de 2009.
RIOS.Terezinha Azeredo.Significado e Pressupostos do Projeto Pedagógico.In Série Idéias n. 15. São Paulo: FDE, 1992. Disponível em
http:// http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_15_p073-077_c.pdf Acesso em 18 de setembro de 2009.
O Desafio do Ensino Superior
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