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O INÍCIO E FIM



Certo dia,

Meus olhos foram enfeitiçados,

Encantados como marinheiros

Quando encontravam sereias no mar grego.


Vi um menino que corria entre três pontos:

No primeiro ponto,

No ponto de partida ele era somente um bebê desnudo

E cheio de vida.


Engatinhava primeiramente balbuciando

Em direção a um homem já feito,

Quanto mais rápido, mais ele crescia

Esticando a pele e estralando os ossos.


Quando alcançou o homem já feito

Percebeu que a rapidez não era o mais importante,

Então um desejo se apoderou dele, isto é,

Queria permanecer ali, estacionado

Contemplando o mundo,

As flores e os pássaros,

Mas, diante de sua recusa em caminhar pela terra

Até a um velho em um outro ponto,

A terra passou a arrastar seu corpo.


Nesse trajeto a rapidez de seus passos

Foi trocada pela velocidade em que se transformavam

Sua pele e seus traços.

Quando percebeu, já tinha tomado o lugar do velho

Vestindo suas roupas

E a fragilidade de seus músculos e ossos.


Com a velhice em posse de seu corpo

Aprendeu a escutar mais e a falar menos.

Com os olhos mais aguçados

Percebeu no último ponto a imagem chamuscada

De um grande portão em forma de círculo,

Então um medo passou a fazer parte de seu périplo involuntário

Até o último ponto.


Aquele velho desejava retornar aos trechos anteriores,

Mas só haviam sombras de vagas lembranças

Pairando como bruma de uma manhã cinzenta.


Mesmo contra sua vontade,

Seu corpo e seu ser flutuavam em direção ao ponto final,

No qual, ao chegar percebeu em letras grandes

Grafadas em vários idiomas a palavra:

MISTÉRIO!


Depois que alcançou o grande portão,

Aquele que fora criança, homem feito e velho

Sumiu feito nuvem,

Nada ficou, sequer pude ver outra vez sua silhueta,

Seu vulto, ou até mesmo seu rastro...

 
 
 

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