O INÍCIO E FIM
- Davi Roballo
- 6 de jun. de 2021
- 2 min de leitura

Certo dia,
Meus olhos foram enfeitiçados,
Encantados como marinheiros
Quando encontravam sereias no mar grego.
Vi um menino que corria entre três pontos:
No primeiro ponto,
No ponto de partida ele era somente um bebê desnudo
E cheio de vida.
Engatinhava primeiramente balbuciando
Em direção a um homem já feito,
Quanto mais rápido, mais ele crescia
Esticando a pele e estralando os ossos.
Quando alcançou o homem já feito
Percebeu que a rapidez não era o mais importante,
Então um desejo se apoderou dele, isto é,
Queria permanecer ali, estacionado
Contemplando o mundo,
As flores e os pássaros,
Mas, diante de sua recusa em caminhar pela terra
Até a um velho em um outro ponto,
A terra passou a arrastar seu corpo.
Nesse trajeto a rapidez de seus passos
Foi trocada pela velocidade em que se transformavam
Sua pele e seus traços.
Quando percebeu, já tinha tomado o lugar do velho
Vestindo suas roupas
E a fragilidade de seus músculos e ossos.
Com a velhice em posse de seu corpo
Aprendeu a escutar mais e a falar menos.
Com os olhos mais aguçados
Percebeu no último ponto a imagem chamuscada
De um grande portão em forma de círculo,
Então um medo passou a fazer parte de seu périplo involuntário
Até o último ponto.
Aquele velho desejava retornar aos trechos anteriores,
Mas só haviam sombras de vagas lembranças
Pairando como bruma de uma manhã cinzenta.
Mesmo contra sua vontade,
Seu corpo e seu ser flutuavam em direção ao ponto final,
No qual, ao chegar percebeu em letras grandes
Grafadas em vários idiomas a palavra:
MISTÉRIO!
Depois que alcançou o grande portão,
Aquele que fora criança, homem feito e velho
Sumiu feito nuvem,
Nada ficou, sequer pude ver outra vez sua silhueta,
Seu vulto, ou até mesmo seu rastro...
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