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O ladrão de mim

O ladrão de mim

O que vejo ao abrir os olhos da alma? Vejo o espelho, o revelador espelho A mostrar-me que o tempo me consome… O tempo, este ladrão pés de veludo Que escava sulcos em minha tez Por onde escorrem meus dias Em direção a um abismo…

Oh tempo, companheiro de noites enluaradas Que banham de prata meus cabelos Enquanto corroe minha esperança, meu afã E rouba minha juventude e firmeza dos passos Depositando no fundo de minha alma Lembranças, experiências, imagens e sabor Que um dia vi, degustei, adquiri, senti e vivi.

Oh tempo… Velho escultor entre os escultores Pois só mesmo tu podes mesmo esculpir Nas lembranças, esculturas e efígies… De emoção, alegrias, amores e dissabores Em exposição permanente em tua galeria Que acesso para reviver seus cheiros e sabores.

Oh tempo, grande sacana! Escondeste de mim a sabedoria E turvaste com enganos os olhos da alma Enquanto percorria a juventude acelerado Entendo-te! foste sábio e comiserado Não se dá demasiado combustível Para quem está inda tão despreparado.

Mas, nesta altura da comédia humana, oh tempo… Encaro-te frente a frente, olhos nos olhos Pois se não posso domá-lo, pará-lo e atrasá-lo Tenho de aprender amá-lo e a devorá-lo Enquanto me consome, eu também te consumo E assim vamos até o dia em que terás me consumido E continuarás pela eternidade, enquanto eu jazo consumido.

O ladrão de mim

 
 
 

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