Por onde anda nossa referência?
- Davi Roballo
- 29 de set. de 2013
- 2 min de leitura

As tecnologias presentes como nunca no cotidiano humano, como um vírus aos poucos estão invadindo setores de nossa existência. No contexto biológico quando um vírus ataca um organismo alimenta-se de células e se replica até a falência fisiológica, então o organismo deixa de ser.
As tecnologias quase que imperceptivelmente estão se acomodando em nossas relações, se alimentando não de nossas células como no plano fisiológico, mas de nossa vaidade. Estamos tão concentrados em replicar fatos banais de nossa vida, que o vírus tecnológico está roubando nosso tempo e nossa referência como seres, tanto, quanto o vírus biológico rouba a saúde de um organismo.
No contexto biológico convivemos com vários vírus que com o tempo aprendemos a controlá-los, seja com interferência química e/ou com o sistema de defesa orgânico, como é o caso de o vírus da gripe. No entanto, na área das emoções, dos sentimentos ainda estamos sofrendo as consequências do que ainda não aprendemos a remediar, justamente por ser algo novo. E essas consequências se estabelecem na dependência psíquica que aparelhos e replicadores de imagens e de vaidades nos causam.
Estamos inquietos, curiosos e com sede de evidência, numa insana e inconsciente vontade de anunciar ao mundo que existimos e que queremos atenção de outros, enquanto que a capacidade de introspecção é carcomida pelo vírus tecnológico, o que dificulta chegarmos até nós mesmos nesse emaranhado de informação diametralmente efervescente, que como o vírus biológico avança de forma exponencial.
Em tempos idos e agora se tornando cada vez mais raro, a realização pessoal estava centrada em algo concreto, realizável, como uma formação profissional ou acadêmica, como também num casamento e/ou na capacidade e responsabilidade em ser pai e mãe. Nesses novos tempos a realização está deixando de ser temporal incluída num contexto de lutas, glórias e sacrifícios até o apogeu da conquista, para inserir-se na imediaticidade em que estamos nos realizando, não naquilo que conquistamos ou somos, mas naquilo que idealizamos num campo imediato e fugaz que necessita de mais e mais exposição.
Os primeiros sintomas desse vírus tecnológico já são evidentes em consultórios psiquiátricos e psicológicos traduzidos no que está sendo colocado como o mal do século 21, o mal da depressão, que em minha opinião, no contexto da interação tecnológica é um abismo sob uma ponte pêncil entre o real e o irreal em detrimento ao caminho sedimentado do ser, que ignora o passado e o futuro fixando-se na incerteza da idealização do presente, por ter perdido a referência como “Ser”, e ter adentrado nos contextos do “Ter” e do “Aparecer”, que por si mesmos são fugazes e incertos. Mas isso é minha opinião e por ser uma opinião é uma hipótese que precisa ser mensurada.
Por onde anda nossa referência?
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