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Reflexões sobre a vaidade



Há muito ouvi de um idoso que o importante da vida não era o que levamos da vida e sim a vida que levamos. Confesso que não concordei com o velho de inicio, mas no discorrer de seus argumentos fui convencido por sua veemência: o que levamos para o túmulo está correlacionado as ações que praticamos, ou seja, da vida que levamos enquanto vivos.


Amar a vida enquanto vivos foi a grande lição do velho sábio. Amar sem se preocupar se seremos lembrados ou cultuados depois de nosso último ato de vaidade que é a via fúnebre com seus ritos e tradições. Tudo é vaidade dizia aquela boca circundada pela pele flácida e enrugada que se rendia depois de anos lutando com a gravidade. A vaidade é maior vilã de nossas vidas, pois mesmo depois de mortos ela nos persegue nas pompas de um funeral onde tudo o que foi, deixa de ser, suspirava como alguém que percebe o que por anos não havia percebido.


Se pudesse voltar no tempo dedicaria minha vida a diminuir a minha vaidade, pois com certeza teria vivido mais leve, livre e solto sem essa ancora que temos amarrada no calcanhar, filosofava. A vaidade, dizia o velho,  está em tudo porque tudo está nela. Ela nos cega a ponto de termos vários pares de calçados enquanto que necessitamos apenas de um para transitarmos pela vida. É a vaidade que nos impede de compreendermos pontos de vista diferentes dos nossos, pois por vivermos tendo ela como pilar, sempre nos projetamos a um tamanho e realidade que não nos pertence.


Dizia o octogenário, que o homem não deve pautar sua vida pelo que a vaidade dita. Não deve se preocupar com o que tem na vida, mas viver o presente  dia-a-dia como se fosse o mais importante e o ultimo dos dias, pois que ao se preocupar com o futuro que é incerto, com as posses e com as opiniões alheias se perde mais um dia de edificação solene da própria história. Vive bem quem vive o agora, afirmava.


Prosseguia o velho, se pudesse voltar no tempo não sufocaria meus sonhos de infância, não macularia minhas intenções de mudança que se acovardaram diante das opiniões alheias, pois que minha vaidade estava mais preocupada com o que eu significava para outros em detrimento a mim mesmo. Se pudesse resgataria todas as oportunidades que tive e hoje se encontram perdidas na linha do horizonte de meus dias. Teria arriscado mais, teria sido eu mesmo.


No jogo de minha vida a vaidade consagrou-se vencedora, disse o velho. Não a venci, a compreendi e mesmo maduro não consigo violentá-la, vencê-la, pois mesmo essas palavras que falo sobre ela estão alicerçadas e movidas por ela. É algo do qual não me livrarei até meu dia derradeiro, pois ela está em mim e eu estou nela, juntos amamos, juntos nos autodestruímos e o que sobra no final é só a vaidade ostentada no esquife, na lapide e na pompa do adeus.

 
 
 

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