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Sobre Nietzsche



Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar.” Nietzsche

Passados mais de cem anos de sua morte, Nietzsche continua mal entendido e eivado de preconceitos. Não é raro ouvirmos alguém referir-se ao filósofo alemão como o drogado, o esquizofrênico, o louco… Mas, felizmente esse tipo de acepção só parte de pessoas que sequer buscam entender o pensamento nietzschiano e muito menos sabem separar o homem de sua genial obra.

Os maiores absurdos surgem, no entanto, quando ouvimos alguém afirmar em bom tom que o filósofo enlouqueceu em três de janeiro de 1889, por ter estudado demais, quando na verdade era portador de uma doença hereditária que havia levado seu pai a morte aos 36 anos de idade.

Comparar Nietzsche a um drogado é desconhecer o contexto do passado confundindo-o com o presente. Por ser acometido de enxaquecas intermitentes, que chegavam a durar 72 horas, usava os analgésicos e sedativos mais fortes da época como o ópio, o que hoje, com o avanço das ciências, fica totalmente inadmissível para o alivio da dor.

Confundir o super-homem (Übermensch) de Nietzsche com a superioridade racial eugênica, defendida principalmente pelos nazistas e anti-semitas, não corresponde a um discurso intelectual, mas a conceitos de ultraje e má intenção. O super-homem nietzschiano é a superação do homem em êxito. É a definição do homem livre de todas as mazelas contumazes de seu psiquismo, ou seja, o homem audacioso e perfeito, sem magoas, ira, egoísmo… sendo uma verdade em sua vida a inteligência e a suavidade. Para alguns, Nietzsche, ao formular a doutrina do super-homem, inspirou-se no mitológico Prometeu, que, audacioso desafiou a todos e passou a viver como bem entendia, saciando sua sede por conhecimento e o compartilhando…

Ao considerarmos a doutrina do super-homem, chegaremos a conclusão de que ninguém foi capaz de atingi-lo, uma vez que, segundo o filósofo, o que passa vez por outra pela Terra, são fragmentos do super-homem, não podem representá-lo por completo, pois nossos grandes gênios possuíam e possuem grandes defeitos.

Vale ressaltar que o relacionamento de sua obra com a causa nazista foi realizado por sua irmã Elizabeth, contrariando-o, pois, na obra Ecce Homo, Nietzsche alertava para que no futuro não confundissem a doutrina do super-homem com os ideais anti-semitas e da eugenia em voga em sua época.

Outro aspecto da filosofia nietzschiana a causar confusões é a sua inacabada doutrina do “eterno retorno”, confundida com a reencarnação e a metempsicose budista. O eterno retorno de Nietzsche baseia-se no fato, de que retornamos infinitamente a viver a mesma vida, e que dado a isso devemos viver o presente como se fosse o último momento, pois iremos repeti-lo infinitamente. Mas em hipótese alguma o eterno retorno está ligado a um aspecto temporal ciclíco, mas, aponta que todas as emoções, sentimentos e transformações virão a acontecer novamente em nossa vida com outros gostos e cheiros infinitamente. É como a água da chuva que cai em determinada região e data retornando aos rios e conseguentemente ao mar e novamente evapora transformando-se em chuva  caindo em outra região e data, sem deixar de ser àgua.

Para julgar Nietzsche é imprescindível conhecer sua obra, seu pensamento e o homem que foi, mesmo assim jamais o homem deve ser confundido com a própria obra, uma vez que, como seres portadores de um sopro de vida temos um tempo determinado, enquanto que obras literárias de grande envergadura garantem seu espaço na posteridade. Nietzsche foi mais que um filósofo, mais que um escritor e muito mais que um poeta, foi e continua sendo um precursor, o cicerone de uma nova ordem do devir.

 
 
 

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