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Solidão intelectual




Em meu escrever estou sempre ao centro.

Narcisismo? Com certeza!

Pois é disso que padece

Quem olha demais

Para um espelho

Em busca de si mesmo, Pois não foi a vaidade Que matou Narciso, Mas o espanto Por não ter reconhecido O próprio rosto refletido  No espelho d’água. Pobre Narciso,  Pensou desvendar rapidamente O próprio mistério, Pensou haver para isso tempo, Acabou morrendo,  Pois nem mesmo em mil vidas Poderia conhecer tudo O que temos por dentro.

É diante do espelho

Que fixo o olhar para dentro de mim

E percebo imagens tão cruas e cruéis, Que dizem ser normal em um ser humano.

As pessoas que transitam

Pelas ruas me assustam,

Pois, trago em mim

Os mesmos demônios internos

Que cada uma delas traz dentro de si…

A cada passo tento fazer de meus olhos

Filtros de meu próprio mundo

Para que meu EU

Não se afogue em sua própria E humana imundície.

Através do espelho

Vejo meus próprios passos e atos

E procuro compreendê-los,

Passos cambaleantes, quanto oscilantes,

Pois não conseguem

Traçar uma reta ou uma meta

De liberdade.

Mesmo assim,  Há uma vontade de viver,  Uma vontade em me descobrir,

Que talvez tenha surgido como fonte perene

No dia em que decidi encorajado

Pelas letras nietzschianas,

Acordar em meio a madrugada

Enquanto a grande maioria ainda dormia.

Solidão intelectual,

Esse deve de ser o mal

Do qual padeço silenciosamente;

O preço a pagar por perambular

Pelo vazio das ruas prateadas

Pela luz da lua e tê-las só para si;

A recompensa para quem se atreve

Já estar de pé antes da aurora

E nunca mais conseguir dormir

E na luz do dia ver o quão fútil é o homem,

E tão pouco útil

O que ele julga ser sua maior criação,

Algo que nem mesmo ele

Sabe direito a serventia:

O conhecimento…

Precoce, rebelde, esquisito

Bradaram sempre ao vento, Entre soluços e rouquidão

As pernas curtas

Que jamais alcançaram

A outra parte de si mesmos…

Desde que a memória

Permite-me lembrar,

Sou encantado pelos livros,

Acredito que encontrava  Nas páginas deles nas bibliotecas,

O mesmo silêncio e a solidão

Que sempre carreguei internamente,

Uma solidão sem alardes,

Pois, sempre tive vida social.

Trata-se da solidão

Daqueles que enxergam

A vida de um ângulo diferente

E raramente encontram alguém

Com o mesmo olhar,

Para partilhar

O espanto interminável  E indecifrável pela vida,

Restando então,

O refúgio no silêncio das letras…

 
 
 

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