A VELHA MATRONA DO CAMINHO
- Davi Roballo
- 30 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Talvez,
Eu, como muitos
Tenha chegado atrasado
Para o encontro com a vida.
Andei tanto, tanto corri
No alvor da juventude,
Mas parece que não havia saído
Do ponto de partida.
Sentindo o inverno repousando
Sobre meus cabelos e a ferrugem do tempo
Impregnando meus ossos,
Tive de diminuir a contragosto a velocidade.
Nem bem tinha me acomodado
Na beira da estrada do mundo,
Deparei-me com uma matrona com ares professoral,
A qual, com uma lista em mãos
E o dedo em riste me pergunta:
Aonde pretendias chegar
Tão apressado?
Bem sabes que não tenho tanto tempo,
Grande parte do que tinha
Gastei te acompanhando
Na esperança de que tu desses
Uma trégua em tua insanidade.
Sou a tua vida como nunca viveste,
Como nunca encontraste.
Aqui te entrego todo o início da velhice
E o que te cabe em sementes de maturidade.
Tua velhice meu caro, é certa
Dela tu não escapas,
Mas, a maturidade terás
De cultivá-la, visto que,
Nem todos os velhos são maduros
E nem todos maduros são velhos.
Há pessoas que colhem os frutos antes do tempo
Por terem amadurecido prematuramente,
Enquanto outras sequer lançam nas
Terras do próprio espírito as sementes.
E, há outras ainda que lançam as sementes
E, saem pelo mundo iludidas
De que basta plantar para colher.
A escolha é tua meu caro,
Envelhecer amadurecendo
Ou apenas envelhecer.
De agora em diante sentir-me-á
Com mais intensidade,
Pois, contigo já passei da metade do caminho,
E tu, assim como tudo que caminha para fim
De si mesmo deve receber mais atenção
E mais notoriedade.
Bem-vindo ao início do caminho
Da velhice,
De teu declínio como ser humano,
Bem-vindo ao caminho que
Dependendo de tua vontade,
Pode te conduzir a sabedoria
E ao interior de ti mesmo.
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