Sobre homens e bois
- Davi Roballo
- 19 de mai. de 2010
- 3 min de leitura

“Um povo ignorante é um instrumento cego de sua própria destruição”. Simon Bolivar
Imagine uma grande fazenda de confinamento bovino composta de milhares de baias, cada uma com um boi condicionado a um espaço mínimo para que ele possa deitar e/ou ficar em pé para consumir seu alimento. Considere que os bois estão ali desde os seus nascimentos.
Agora, imagine que esses bois fossem capazes de desenvolver faculdades de percepção e consequentemente sendo eles fruto do meio onde estão localizados, teriam para si, a concepção de que a fazenda seria o universo e as baias seus mundos, além de considerarem que o único alimento existente era o feno que comiam a fim de ganhar peso sem enrijecer os músculos, obtendo através desse método uma carne mais nobre e macia.
Agora se debruce sobre sua imaginação. Considere que num determinado dia por um descuido do fazendeiro, todas as portas sejam abertas. Então alguns bois após balbuciarem um pouco, resolvem sair de seus limitados compartimentos, distanciando-se alguns metros daquele curral. No entanto, ficam totalmente exaustos devido aos seus frágeis condicionamentos físicos e debilidade muscular, o que os força a deitarem para um descanso.
Imagine que após o descanso alguns levantam, ficando somente a metade da tropa, acomodada, enquanto que os demais com a curiosidade aguçada seguem em frente descobrindo novas espécies de plantas frescas e palatáveis. Seguindo o trajeto e já cansados esbarram em uma cerca, onde decidem repousar. Descansados, novamente só a metade levanta decidida a prosseguir a caminhada iniciada, enquanto que a outra parte decide permanecer acomodada com a nova situação, argumentando que aquela cerca é um obstáculo intransponível.
Novamente só um pequeno grupo decide continuar com a caminhada após uma dificultosa transposição da cerca e de uma mata, onde atônitos descobriram várias espécies de seres vivos, como também enfrentaram vários perigos, depararam-se com outros prados e acidentes geográficos, ainda mais exuberantes e intrigantes que os anteriores, tendo logo à frente a imagem de uma grande montanha, onde em seu sopé contemplaram grandes árvores isoladas e frondosas proporcionando abundante sombra, além de fértil pastagem e água cristalina de uma cachoeira, desaguando num lago, para onde deslocaram-se às pressas, sem darem-se de conta, que seus músculos encontravam-se mais enrijecidos e com um condicionamento físico bem estruturado.
A metade dos bois decide ali permanecer, por concluírem, que já haviam chegado ao fim de tudo e que aquela montanha balizava as fronteiras do nada, além daquela área lhes proporcionar tudo o que era atinente a levar uma vida com tranqüilidade e sabedoria devido a todas as experiências passadas até a chegada deles, ali naquele oásis.
Os cinco bois restantes decidem conquistar o topo da velha montanha e deparam-se com outras ainda maiores, riscando as linhas do horizonte. Perplexos pela visão proporcionada pela elevação, avistam em todas as direções inumeráveis campos, rios, cadeias de montanhas e a imensidão de um oceano e reportando seus olhares de forma mais curta, em direção de onde vieram, localizaram a grande fazenda a qual por muito tempo haviam considerado universo. A fazenda daquele ponto é agora um minúsculo grão de areia diante da imensidão sob seus cascos.
Após algum tempo já estavam novamente em marcha para novas incursões, prosseguindo com suas curiosidades cada vez mais aguçadas, pois tinham naquele momento mais questionamentos e descobertas a fazer totalmente baseadas nas anteriores. E assim prosseguiram tornando-se mais fortes e experientes a cada nova jornada, formulando estratagemas e medidas de precauções ante os perigos das investidas, enquanto que os demais que haviam permanecido nas redondezas da fazenda já haviam sido recapturados e posteriormente esfolados num abatedouro…
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