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A galinha cega


O galináceo, por incrível que pareça, não serve apenas para ceder-nos o ovo e a carne, mas para entendermos profundamente, por analogia, nossas relações sociais, afetivas e profissionais, e isso se deve a alguns autores e teóricos que buscaram através de fábulas e metáforas melhor representar o comportamento humano.


GottholdLessing, na fábula “A galinha cega”, conta que uma galinha cega, suja e com as unhas deterioradas se fazia sempre acompanhada de outra bem-nutrida, penas reluzentes e unhas bem-conservadas. A galinha cega estava sempre a esgravatar o solo em busca de centeio, enquanto sua companheira deliciava-se como cereal que a tola cega encontrava e não sabia, dando a ela somente o suficiente para mantê-la viva e a serviço dela, pois, conforme o jornalista Sydney J. Harris, “as boas pessoas amam pessoas e usam coisas, enquanto as más pessoas amam coisas e usam pessoas”.(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});


A fábula da galinha cega é tão significativa que Robert Greene a utilizou para formular a Lei número sete: “Faça os outros trabalharem por você e fique com o crédito”, lei esta que faz parte de sua obra “As 48 leis do poder”. Um livro frio, realista, chocante e atualíssimo, pois coloca diante de nossos olhos toda imundice existente em nossas relações que envolvem o poder, seja religioso, político e administrativo.


Existe um adágio popular que diz: “o mundo é dos mais espertos”, e o é. No entanto, nem sempre esperteza significa eficiência. Na vida, queiramos ou não, somos por vezes galinha cega e/ou galinha esperta, entretanto, é mais comum encontrarmos galinhas cegas a serviço de galinhas espertas, como bem discorreu William Penn: “Deixe as pessoas pensarem que governam e elas serão governadas”.(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});


Técnicos comunicólogos, para exemplificarem a importância da propaganda, utilizam a diferença entre ovo de pata e o ovo de galinha, ou seja, a pata põe um ovo maior, com mais vitaminas e proteínas que o ovo da galinha, no entanto, o ovo da galinha é de longe o mais conhecido e consequentemente o mais consumido. A diferença está em pôr o ovo. A pata põe seu rico ovo e sai do ninho quietinha, já a galinha anuncia aos “quatro ventos” que há ovo fresco na área.


No decorrer de nossa existência, podemos observar muitos profissionais de alto nível, abaixo de outros de nível inferior que muitas vezes ocupam cargos de chefia. Isso acontece porque as pessoas inseguras em relação à sua capacidade são mais atrevidas, prometem mais do que são capazes e sustentam a imagem de eficiência explorando os serviços dos eficientes, ou seja, promovem-se através do serviço alheio enquanto que o verdadeiramente eficiente está acomodado em sua eficiência à espera de que alguém venha até ele, que devido a sua autoconfiança esqueceu o velho adágio: “quem não é visto não é lembrado”.


Isso é o que Robert Greene aponta em sua Lei número sete: “Use a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria. Não só essa ajuda lhe economizará um tempo e uma energia valiosos, como lhe dará uma aura divina de eficiência e rapidez. No final, seus ajudantes serão esquecidos e você será lembrado. Não faça você mesmo o que os outros podem fazer por você”.(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});


Desde Esopo e Fedro, a fábula tem por analogia nos mostrado, ou pelo menos tentado através da arte de pensar, tirar-nos da apatia intelectual em que levamos a vida, sem perceber o quanto somos enganados e explorados por pessoas mais “espertas” e sem escrúpulos, e a analogia do mundo animal em relação ao nosso tem sua valia, como disse La Fontaine: “Sirvo-me dos animais para instruir os homens”.


A fábula da galinha cega e a diferença da pata e da galinha ao pôr ovo é primordial para que voltemos os olhos para nós mesmos e nos questionarmos: como tenho me portado na vida? Como uma galinha cega, uma pata ou uma galinha esperta?

 © Todos os direitos reservados ao escritor Davi Roballo

 
 
 

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