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Anistia infantil


Depois que atingi determinada idade,

Sinto que aos poucos

Estou andando mais devagar,

Respirando mais compassado

Enquanto algo dentro de mim

Se agita, se contorce como um pássaro

Que quer logo eclodir de um ovo.

A impressão é de que agora,

A criança que fui e está exilada

Nos escombros do ontem

Vê a possibilidade de ser anistiada

E retornar à luz do dia,

Na qual poderá perceber

Que ainda há coloridas borboletas

Balançando suas asas no horizonte,

Enquanto descalço poderá sentir

A liberdade de se ter os pés

Na terra, tingindo-os

Com a poeira que cobre o chão.

Creio que a partir dessa altura da vida

A criança consegue aos poucos se libertar

E começa caminhar de mãos dadas com a velhice,

Que os anos semearam nos poros da pele

E irrigada pelas lágrimas

Já brota no rosto e no andar.

Não há outra justificativa para este olhar mágico

E contemplativo pelas belezas do mundo

Que não se percebe antes de certa idade,

A não ser de que a criança que habita o adulto

Esteja paulatinamente caminhando em direção

Ao seu devido lugar: o resgate da inocência,

A conjugação do verbo amar.

Velhos são crianças

Que retornaram de longo exílio,

Por isso, há tamanha empatia

Entre netos e avós,

Ou seja, criança interage mais livremente

E é mais feliz com outra criança,

Pois a felicidade depende

Da inocência para se manifestar

E quando dois ou mais inocentes se encontram,

É alegria sem preço, sem par…

 
 
 

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