COLHEITA
- Davi Roballo
- 2 de ago. de 2021
- 1 min de leitura

Colhi tanta coisa por onde passei,
Tanta coisa que poderia fundar um império,
Que certamente iria me afogar em minha própria vaidade.
Colhi maçãs nas brumas das manhãs
De minha própria renascença
E as fatiei como são fatiados meus dias
E as horas que aspiram aos poucos minha alma.
Colhi flores em desertos que não se acreditava produzir
Mais do que miragem e insolação,
Nesse mesmo deserto observei mais limpo
O céu e mais cintilante as estrelas,
Visto que, lá não havia homens.
Colhi lágrimas plantadas por fadas no orvalho da aurora
E as depositei no túmulo de um soldado desconhecido
Que morreu estupidamente defendendo políticos estúpidos.
Colhi pela estrada quatro coroas e três diademas,
Adornos de sete monarcas
Que abandonaram seus palácios ao perceberem que não há
Nada de superior no homem, principalmente em relação a outro.
Colhi tanta coisa e tanta coisa deixei de colher,
Que um dia me vi colhendo a mim mesmo,
E, em um lapso lembrei que em determinado tempo
Eu havia me ignorado.
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