top of page
Buscar

Empreendedores de fim de semana



“O inferno são os outros” Jean-Paul Sartre

O fim de semana existe para que possamos refazer nossas forças, como também, reforçar nossos laços afetivos, sociais e religiosos, pois todos estes aspectos de nossa vida são vitalmente importantes para que os cinco dias subsequentes –dias de produção– sejam realmente produtivos. É nesses dias de folga que olhamos um pouco para nós mesmos e para os que nos rodeiam.

É no fim de semana que distanciamo-nos da pressão consumista e produtiva à que estamos sujeitados. Livres dessa pressão seja no bar com os amigos, num almoço com familiares e/ou confraternização na igreja, visualizamos nossos potenciais e então formulamos planos futuros. Estabelecemos metas para emagrecer, mudar de vida, trocar de emprego, voltar à faculdade… decidimos arriscar mais, amar mais, brincar mais com os filhos, ir mais ao cinema… No entanto, chega a segunda-feira e uma força mística invade nosso espaço e nossos planos se esvaecem, somem cedendo espaço ao frenesi da vida moderna, vida inventada, vida que sufoca nossa inocência, nosso romantismo. E assim, começamos a semana pensando no seu fim, pois sábado e domingo parecem ser os dias em que nos é permitido, sonhar, amar… dias em que voltamos a ser parcialmente nós mesmos.

Há muito estamos perdendo a noção de nós mesmos, ou seja, vivemos para e conforme os outros querem. Não vivemos para nós mesmos. Representamos, pois, representar o que não somos e o que idealizamos, hoje vale mais do que autenticidade. E nessa busca de subsídios para representar o que não somos desprende-se muita energia, isto é, temos de dar um duro danado para pagar a prestação do carro do ano, para comprar o vestuário da grife tal, pois necessitamos ser vistos e lembrados. Fizemos tudo isso em prol de uma satisfação temporária, imediata e não sobra tempo para angariar a satisfação perene, a verdadeira satisfação pessoal, a autorrealização onde o ser toma consciência de seu potencial e limitações, tornando-se apto e livre para construir seu destino, conforme o pensamento de Sartre.

Viver para e conforme os outros querem se torna uma barreira quase que intransponível para colocarmos nossos planos em prática. Estamos -e não percebemos- presos em uma redoma gerida por um manual de como viver, se comportar, que parece nos forçar a confundir humildade com fraqueza e impotência; superação e “vontade de poder” com pecado. E assim, sedados por essa força invisível que podemos chamar de impotência, esmorecemos diante das possibilidades de sucesso que nossos planos formulados no fim de semana apontam como possibilidades. Muitas vezes não alcançamos êxito em nossos planos porque superação e sucesso têm a contrapartida de termos a responsabilidade de desprendimento em relação às futilidades que aos olhos dos outros parecem grande coisa, mas que são vazias e inúteis para a superação do ser enquanto dono de si mesmo.

Outro fator que nos impede de enfrentar novos desafios é o que Shopenhauer chama de “propensão à preguiça”, Nietzsche endossa este ponto de vista e diz que o homem por desleixo teme ser ele mesmo e por isso prefere o anonimato do rebanho. “Sê tu mesmo! Tudo o que ambicionas agora, tudo isso não é tu” nos alerta o pensamento nietzschiano. O filósofo alemão enfatiza que o homem é destinado a felicidade, mas não o é, por viver atrelado as opiniões alheias. Isto é, o homem é livre para transformar sua vida, pois, segundo esse filósofo “Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu (…)”.

Poucos são os que conseguem pôr em prática seus planos e aspirações. O segredo: são pessoas que não tem medo de arriscar. Pessoas que conhecem o gosto doce da vitória e o gosto acre da derrota, pois preferem buscar a superação e dispensam a possibilidade de ficar à sombra numa zona de conforto escravizadas pelo medo de tentar, pelo medo de mudar… protegidos pela opinião alheia.

 
 
 

Comentarios

Obtuvo 0 de 5 estrellas.
Aún no hay calificaciones

Agrega una calificación
bottom of page