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ENVELHECER




Porquê temes a velhice? Se tu já nasceste envelhecendo, pois, o que são as fases de tua vida? Senão a preparação dos músculos, dos ossos e de tua alma para suportar o peso de teus dias.


Mesmo diante da inclemência do tempo que te põe de frente aos desafios, tu ainda tens tua livre escolha em te deixar envelhecer o espírito ou através da gratidão pela vida conservar tua alma jovial, como um atenuante diante dos apelos transitórios que movem o turbilhão do mundo materialista, egoísta, maldoso e todas as suas armadilhas que te sondam em cada esquina e encruzilhada de teu caminho.


Tu deves ter a consciência de que chega inteiro ao topo da vida humana quem não deixa a criança interna morrer e nem definhar ao atravessar os terrenos perigosos da adolescência, da Juventude e da vida adulta.


Teu farol, teu destino e teu horizonte deve ser reencontrar novamente a beleza da vida depois que atingir o patamar da idade, quando tu tens novamente a oportunidade de serenar tua alma, encontrando assim o encanto pela vida como se fora a mesma criança de outrora, que se encantava e se extasiava com o novo e com o belo.


É na velhice aceita e vivenciada que tu vais observar a magia e a beleza que há em uma abelha que pousa sobre uma flor, o encanto que há em uma flor de beira de estrada, a vida que se agita na relva verdejante embebida de orvalho a cada amanhecer, e ao escurecer poderá extasiar-te com as estrelas bordando o vestido da noite, porque a tua alma já não vai mais encontrar-se agitada.


Somente quando te reconciliares com a vida no alvorecer da velhice tu vais encontrar a tranquilidade e a paz, porque irás perceber que de nada adianta ultrapassar a vida na velocidade em que a juventude está mergulhada.


É através de teu caminhar compassado que tu vais perceber que o maior engano é pensar que tu passas pela vida, quando na verdade, é a vida que passa por ti, deixando suas marcas, como os sulcos em teu rosto, erosões provocadas por todas as lágrimas que correram de teus olhos em direção ao abismo incompreensível de ti mesmo.


É olhando para trás, onde ficaram tuas glórias, teus sacrifícios e tuas derrotas, que tu vais perceber que a vida não é para amadores, visto que ela é luta, é superação, porque tu estás aqui para superar a ti mesmo no dia a dia, enfrentando todas as intempéries que o tempo te oferece através dos desafios que a própria existência te impõe.


O fechamento de tua vida pode ser belo, trágico ou um grande vazio, dependendo da forma como tu a vejas ao atingir o topo da existência. Tu podes te revestir de todo otimismo de uma criança e dar graças a tudo que vivestes ou maldizer tua caminhada com os olhos e a cabeça baixa de um derrotado, a escolha é tua, somente tua.


É no átrio da velhice que tu vais perceber que a vida não é para viver à sombra de alguém ou do comodismo, mas para caminhar sob o sol escaldante vivenciando tua própria história.


Verás tu, que a sombra na vida é apenas para o abrigo temporário, no qual se deve recuperar as forças e seguir adiante construindo tua própria estrada, pois envelhecer não significa desistir de percorrê-la.


É na velhice que tu, mais calmo e amadurecido pelos dias, vais perceber o quanto muitas vezes fostes imprevidente, egoísta, apressado e imediatista. No entanto, a vida não te castigou por isso, mas tu mesmo foste teu algoz.


Na vida, nada se perde, tudo faz parte de tua edificação, porque sem todas tuas experiências, alegrias, frustrações, dissabores e derrotas tu não te constituiria como estás constituído, visto que essa é a tua história, nela estão assentados teus passos, os abraços que recebestes e retribuístes, o bem e o mal que praticastes, teus encontros e desencontros, como também, tuas despedidas.


Tu vais perceber na velhice, que cada dia que tu tiveste foi uma oportunidade de vencer ti mesmo, visto que a vida ensina e só não aprende quem não quer.


É na velhice que tu vais encontrar a criança que tu foste de braços abertos, a mesma criança inocente que não se deixava levar pela vaidade e por todo esse consumismo exacerbado do mundo moderno. É nos braços da infância reconquistada que tu vais perceber que o corpo não é mais importante que a alma.


Em paz consigo mesmo e de mãos dadas com o envelhecer consciente, tu vais revisar tua vida e chegar à conclusão que valeu a pena sim, ter vivido tudo o que tu viveste.

 
 
 

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