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Eu converso com gente morta

 Eu converso com gente morta


Todo bom livro é escrito por um leitor determinado e por aqueles de sua categoria; é precisamente por isso que todos os outros leitores, ou seja, a grande maioria, o recebem muito mal; por isso sua reputação repousa sobre uma base restrita e só pode ser edificada lentamente. O livro medíocre e ruim é bem recebido justamente porque procura agradar e agrada a todos. Nietzsche




Atualmente poucos são os escritores que não se deixam levar pelo frenesi do consumismo, da fama, o escrever para sobreviver escrevendo o que os leitores querem ler. Por isso, e um pouco mais, os autores antigos continuam soberanos na arte da escrita, embora empoeirados nas  livrarias. A preocupação dos antigos sempre foi repassar conhecimento, semear a arte da perquirição, da duvida, do autoconhecimento, revelando a vida como ela é, e nos aproximando da realidade. Ler é travar dialogo silencioso com quem escreveu, e por preferir os autores antigos, vivo dialogando com gente morta.

Ler autores do passado é observar a disparidade de conteúdo que há entre eles e muitos autores atuais, que mais se enquadram no tipo mercenário. Não é difícil encontrar livros repletos de verborragias com o fim de preencher o vazio de um papel e fazer volume a algo que muitas vezes deixa de ser uma arte para transformar-se em mercadoria. Escrever é uma arte que exige responsabilidades, entre elas a de repassar conhecimento e fomentar a discussão a respeito do que se discorre em um livro escrito. O gesto de ler está tão banalizado, que virou sinônimo de passatempo, quando que sua real acepção é a de promover inquietação ao nosso ostracismo intelectual e a libertação do Ser de sua escravidão voluntária.

Atualmente temos bons escritores como Gabriel Garcia Marques, Saramago (falecido há pouco), e o brasileiro Rubem Alves que nos despertam de letargias intelectuais que muitas das vezes desconhecemos. São escritores que a modo dos antigos nos despertam o raciocínio a respeito da vida, do existir e de nossas relações sociais com todas as suas nuanças, benesses e falhas. Livro bom é aquele capaz de despertar a capacidade de comparação, inquietação e reflexão, deixando em nós o deleite de tê-lo absorvido e o entendido.

A leitura através dos livros para delinear sua eficácia, tem de servir de chave mestra para as portas que conduzem aos mistérios da existência, tem de produzir um terremoto em nossas concepções estacionarias e entregues ao ócio do comodismo. Tem de servir de espelho, capaz de mostrar nossas efígies e nossas ações reproduzidas nas letras, para que assim venhamos acordar da sonolência em que a existência nos submete ao aceitarmos o modelo daquilo que não somos.

A febre do consumismo em voga tem nos arrastado para o ato de ler um livro porque a critica comprometida com o sucesso do mesmo disse que é bom. Estamos perdendo a noção de que quanto mais popular uma obra, menos conteúdo, menos arte, menos criatividade se acerca dela. Numa época do grotesco e da futilidade as grandes obras continuam sendo uma saída e um farol para quem gosta de movimentar-se por todos os caminhos possíveis da vida, mas, ainda tememos conversar com gente morta, mesmo que seja através de livros.


 Eu converso com gente morta

 
 
 

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