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EU E MIM MESMO




A noite atinge seu ponto alto,

O zênite da madrugada.

Por aqui, no estrado da inquietude

Contemplo a lua balançar seu corpo prateado

No espelho sinuoso das aguadas.


Farfalhos de vozes distantes,

Diálogos intermináveis e sussurros

Sopram nas veredas de meu interior;

Folhas secas levantam junto ao pó repousante

De meus segredos e mistérios,

Pois, eu e mim mesmo às vezes se estranham

Desejando a direção do jogo.


Como dormir com esses dois se engalfinhando?

Bem lá no fundo, mim mesmo quer ser eu

E eu quer ser mim mesmo.


O eu vive com seu cordão umbilical ligado à realidade.

O mim mesmo é filho das conveniências.


Um realmente vive,

O outro simplesmente existe,

A realidade e a ilusão em uma mesma linha,

Em um mesmo trem,

Em um mesmo vagão...


Um vive trancafiado nos meandros da mente,

O outro vive livre em um entra e sai

Nas portas escancaradas do coração.


Vez por outra o sono chega nos braços de um cochilo,

Mas logo desperto de sobressalto,

Visto que, em um grito de desespero

O mim mesmo resgata o eu,

Quando ele cai no próprio abismo

De seus pensares,

Noutras vezes ouço apenas cochichos

E falas suaves.

E lá está o eu consolando

O mim mesmo que se afogou

Nas lágrimas de seus enganos.


Aonde vou

Estão comigo o eu e o mim mesmo.

Visto que os sinto como minhas pernas

Sustentando o que realmente sou:

Esta simbiose que conflui os caminhos

Da vida real e da vida de conveniências,

A confluência que muitas vezes

Não leva a lugar algum.

 
 
 

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