EU E MIM MESMO
- Davi Roballo
- 28 de abr. de 2021
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A noite atinge seu ponto alto,
O zênite da madrugada.
Por aqui, no estrado da inquietude
Contemplo a lua balançar seu corpo prateado
No espelho sinuoso das aguadas.
Farfalhos de vozes distantes,
Diálogos intermináveis e sussurros
Sopram nas veredas de meu interior;
Folhas secas levantam junto ao pó repousante
De meus segredos e mistérios,
Pois, eu e mim mesmo às vezes se estranham
Desejando a direção do jogo.
Como dormir com esses dois se engalfinhando?
Bem lá no fundo, mim mesmo quer ser eu
E eu quer ser mim mesmo.
O eu vive com seu cordão umbilical ligado à realidade.
O mim mesmo é filho das conveniências.
Um realmente vive,
O outro simplesmente existe,
A realidade e a ilusão em uma mesma linha,
Em um mesmo trem,
Em um mesmo vagão...
Um vive trancafiado nos meandros da mente,
O outro vive livre em um entra e sai
Nas portas escancaradas do coração.
Vez por outra o sono chega nos braços de um cochilo,
Mas logo desperto de sobressalto,
Visto que, em um grito de desespero
O mim mesmo resgata o eu,
Quando ele cai no próprio abismo
De seus pensares,
Noutras vezes ouço apenas cochichos
E falas suaves.
E lá está o eu consolando
O mim mesmo que se afogou
Nas lágrimas de seus enganos.
Aonde vou
Estão comigo o eu e o mim mesmo.
Visto que os sinto como minhas pernas
Sustentando o que realmente sou:
Esta simbiose que conflui os caminhos
Da vida real e da vida de conveniências,
A confluência que muitas vezes
Não leva a lugar algum.
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