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FINADOS



O que diriam os mortos

No dia de finados

A quem visita os restos

De seus corpos reduzidos

Ao cálcio dos ossos?


Se pudessem alguns gritariam

Em coro:

Porque somente na data de hoje

Lembram de nós?


Outros ainda mais incisivos

Diriam:

Aqui não estamos,

Aqui não habitamos, se verdadeiramente

Nos amam, procurem-nos

Em vossos corações e aproveitem

Para verificar o espaço a nós dedicado.


E muitos outros gritariam exaltados:

O que as flores tem a ver

Com vossos remorsos?


Finado se torna o dia de finados,

Flores naturais murcham

E as artificiais parecem vivas,

Mas um dia qualquer desbotam

E também “morrem”,

Com a sorte de não terem murchado.


Mas e os ossos?

Permanecem a espera do esquecimento

Para ingressar no ossuário

E depois desaparecerem.


Nem mesmo as lápides

E as fotos

Permanecerão imponentes,

Visto que, ante a luta contra o tempo,

Até mesmo os retratos

Se cansam e desbotam.

 
 
 

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