GENES
- Davi Roballo
- 31 de mai. de 2021
- 1 min de leitura

Há algo que há muito começou
Mergulhado na ancestralidade
Testemunhado na materialidade que o tempo
Até aqui carregou,
Algo que sequer terminou,
Algo que em mim continua
Como em outros continuou.
Por aonde ando
Ou estou,
Encontro pessoas que me reconhecem
E nenhuma que me conheça,
Nem mesmo eu,
Devido ao mutante mistério que se reveste a vida.
Como poderiam me conhecer
Se sou algo inacabado,
Sou somente alguém que carrega um bastão
Até certo ponto,
No qual outro assume
Essa trajetória que um só
Não teria fôlego para percorrê-la.
Quase sempre minha inspiração e meus pensamentos
Me causam espanto e um certo tipo de temor,
Pois parecem emergir de um tempo
Que ainda não aconteceu,
Assim como em outras vezes
Parecem ser de um tempo que já passou,
É como se um outro pensasse por mim,
Como se um outro estendesse
Suas mãos distantes abraçando meu corpo.
Vivo entre essas mãos estendidas,
Mãos ancoradas no futuro
E mãos aterradas no passado,
Em quase nada de minha vida
Eu realmente estou.
Nessas extremidades estão
Todos aqueles que ainda não vieram
E todos aqueles que me antecederam
Nessa teia da cultura,
De genes e de costumes.
Notas borradas e chamuscadas
Pelo fogo do tempo
Vão consumindo no lapso
De vagos segundos,
Minhas pegadas,
Meus rastros.
Commentaires