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GENES



Há algo que há muito começou

Mergulhado na ancestralidade

Testemunhado na materialidade que o tempo

Até aqui carregou,

Algo que sequer terminou,

Algo que em mim continua

Como em outros continuou.


Por aonde ando

Ou estou,

Encontro pessoas que me reconhecem

E nenhuma que me conheça,

Nem mesmo eu,

Devido ao mutante mistério que se reveste a vida.


Como poderiam me conhecer

Se sou algo inacabado,

Sou somente alguém que carrega um bastão

Até certo ponto,

No qual outro assume

Essa trajetória que um só

Não teria fôlego para percorrê-la.


Quase sempre minha inspiração e meus pensamentos

Me causam espanto e um certo tipo de temor,

Pois parecem emergir de um tempo

Que ainda não aconteceu,

Assim como em outras vezes

Parecem ser de um tempo que já passou,

É como se um outro pensasse por mim,

Como se um outro estendesse

Suas mãos distantes abraçando meu corpo.


Vivo entre essas mãos estendidas,

Mãos ancoradas no futuro

E mãos aterradas no passado,

Em quase nada de minha vida

Eu realmente estou.


Nessas extremidades estão

Todos aqueles que ainda não vieram

E todos aqueles que me antecederam

Nessa teia da cultura,

De genes e de costumes.


Notas borradas e chamuscadas

Pelo fogo do tempo

Vão consumindo no lapso

De vagos segundos,

Minhas pegadas,

Meus rastros.

 
 
 

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