O angustiado
- Davi Roballo
- 29 de mar. de 2013
- 2 min de leitura

O angustiado! Chamam-me os anus desprovidos de beleza, juntamente com as galinhas que invejam a astúcia das águias, por serem condicionadas apenas a ciscar o chão, enquanto que a rainha das alturas rasga os ventos e os horizontes da existência.
Sou realmente um angustiado, mas não um angustiado qualquer mergulhado na inação. Sou um angustiado em deboche frente a tudo que foge a sensibilidade e a razão.
Tendo na medida do possível ser livre nesta selva de lobos-homens em que vivemos atormentados pela ilusão de termos uma continuidade, para além do desconhecido.
Transeunte que anda na selva de bestas-feras, sente angustia sim! Pois pode sentir ao longe o mau cheiro desses abjetos…
Tolos! Imaginam que eu viva constantemente mergulhado no desespero.
Mentirosos! Dizem-se felizes o tempo todo, como se fosse possível percorrer uma estrada, sem curvas, aclives e declives…
Sou feliz! Sentado num formigueiro perscruto as paisagens para além do horizonte, enquanto que muitos no topo do Everest, não conseguem vislumbrar ao menos a ponta do próprio nariz.
Para trás ovelhas convalescentes! Não quero compartilhar de vossas síndromes cômodas e estacionárias. A água de meu rio deseja ardentemente encontrar o abismo dos mares…
Hipócritas! De nada vale vossos despeitos! Já fui pedra e gelo. Sou agora, graças às tempestades e ao sol, água e pó. Encontro-me leve e fluo em direção ao complexo inaudito de mim mesmo…
Cândidos ovinos! Minha angustia é passageira. Nada em mim é perene, tudo é inconstante. Há um estado de alma, em cada célula minha que nasce e morre na menor fatia das horas. Não posso voltar ao que fui. Mas, posso acelerar os passos da aurora.
Em meus dias só tenho me permitido ser demasiadamente antecipado. Se não fosse gente, seria semente, arraigando minhas idéias pelo prado.
Hurra! Sou feliz! De forma fragmentada, mas sou. A felicidade completa me mataria. Água demais apodreceria as raízes do carvalho que sou.
Despeitados! Saibam! Que angustia, significa meus momentos de adrenalina. Minhas mais profundas inspirações brotam e deságuam nas dores de minha alma. Ocasiões em que a loucura bate a minha porta, rindo de minha condição limitada e humana…
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