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O fim da sala de jantar





A sala de jantar já foi considerada status de prosperidade nas famílias brasileiras, desde a chegada por aqui da Corte Portuguesa no século XIX. A família até há pouco tempo, reunia-se  em volta da mesa para calmamente consumir o alimento material, tanto quanto, o afetivo, pois era nesse momento que os pilares da família equilibravam o jogo da convivência familiar, como também realizavam a transfusão de cultura e educação.


O espaço físico onde se consumia as refeições e que acomodava a sala de jantar foi o cômodo mais importante de uma casa, pois estava ligada a um costume coletivo de interação sociocultural e familiar. Costume que havia também nos casebres humildes, onde mesmo com a ausência da pompa de uma sala de jantar, o ritual social da alimentação em grupo com todas suas características ocorria em volta de uma velha mesa de cozinha.


Nos últimos acontecimentos tecnológicos e culturais, inseridos nesse turbulento momento social em que estamos vivendo, onde o individualismo é cada vez mais presente, os quartos de dormir tomaram aos poucos o protagonismo da sala de jantar, que se encontra atualmente vazia e um tanto abandonada.


Ao que parece, o quarto de dormir ganhou importância devido a aceleração das exigências profissionais em relação a produção. Estamos exigindo tanto de nós que o corpo cansado nos faz pensar em nossa cama, enquanto trabalhamos e quando já estamos deitados descansando, nossos pensamentos nos consomem com preocupações em relação ao trabalho. Estamos tendo dificuldades para desligar a máquina a qual nos deixamos transformar.


O quarto de dormir atualmente está perdendo sua exclusividade de repouso, pois a televisão, utensílio doméstico que deu o primeiro golpe na sala de jantar, tirando dela seus atores ativos colocando-os em frente a sua tela de forma passiva, está também perdendo seu aspecto coletivo passivo, ao ser deslocada para o quarto de dormir, ou melhor, o refúgio de nosso individualismo. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});


Por incrível que pareça, o quarto em algumas famílias já ganhou o statusde o cômodo mais importante da casa. O comportamento adolescente de viver dentro do quarto, atinge agora aos poucos também o mundo adulto. Hoje, ao que parece, está surgindo uma tendência de se consumir a alimentação no dormitório, ao mesmo tempo em que o indivíduo assiste TV e cuida da manutenção de sua vaidade na internet.


A cozinha atualmente está sendo um ponto transitório, onde as refeições são confeccionadas a velocidade da luz, sem a antiga calma e o ritual do cozinhar, que além de temperos e condimentos tinha adicionado pitadas de amor e ternura, que envolviam e perfumavam toda casa. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});


A inserção do computador nas residências foi o segundo e fatal golpe na sala de jantar, pois, se o ser humano com a televisão tinha esquecido os que dividem com ele o mesmo teto, com a chegada do computador e através dele a internet, o homem agora esqueceu dele mesmo, pois vive num mundo aparente, onde tem certeza de ser o que não é.


(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Se pararmos para observar como está o mundo atualmente, perceberemos que a diminuição da convivência coletiva está refletindo em várias áreas, que compreendem nossa vida. Na arquitetura e engenharia civil, por exemplo, os projetos e construções estão restringindo cada vez mais o espaço residencial. As cozinhas estão diminutas, quartos menores, salas minúsculas, banheiros e área de serviços menores ainda, numa clara afirmação de que a casa, o lar está deixando de ser a instituição mais importante de nossa vida. O pouco que foi exposto nessas linhas desnuda-nos e mostra o quanto egoístas estamos nos tornando, sem falar da solidão que nos assalta pouco a pouco, dia a dia. E dizer que tudo isso pode ter começado com pequenos descuidos nossos, como o desmantelamento da sala de jantar.

 
 
 

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