O fofoqueiro
- Davi Roballo
- 22 de jun. de 2010
- 3 min de leitura

Falar mal dos outros agrada tanto ás pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores. Leon Tolstoi
Quando o fofoqueiro foi encontrado num triste abandono, estava acocorado sobre sua própria ignorância. Com a cabeça baixa, sem coragem de olhar nos olhos de quem permanecia a sua frente, mesmo fragilizado, parecia preparar-se para dar um bote. Estava envolvido por molambos maltrapilhos, com a pele coberta de chagas e ulceras. Havia apodrecido como matéria e como homem. Quem o viu, teve logo a impressão de que se tratava de um espectro, como se houvesse passado pela vida e não vivido. Havia em seu semblante de abandono todos os códigos que guardavam a história de sua nada nobre vida de delação, calunia e difamação. Em cada traço de seu rosto identificava-se a passagem de um livro ou filme marcante pela deslealdade, inveja, pobreza de espírito… Em seus olhos folhavam-se as paginas de o “Conto da escola” de Machado de Assis, onde a delação é movida pela inveja, o que não chega a ser premiada pelo professor, nem aplaudida pela turma. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Por suas veias corriam imagens como as do filme “Sociedade dos poetas mortos”, onde o aluno mais medíocre da classe prefere ceder às pressões das autoridades da escola, dedurando os colegas do seu grupo que haviam transgredido as normas daquela instituição. Devido a sua mediocridade não quis ficar do lado de seus fieis amigos e do professor que lhes havia mostrado um outro mundo, um outro olhar pela vida. Pelos seus olhos se se via cenas de pura inveja, como a de Salieri armando mil e uma armadilhas para eliminar o talentoso Mozart no clássico do cinema “Amadeus”. Numa análise da vida do fofoqueiro se percebeu que ele sempre foi movido por interesses pessoais, seja para se safar de pressões, por vingança, ou qualquer outro motivo como ganhar alguns pontinhos em sua tabela de “bons serviços”… Maldoso e incapaz de pensar estava sempre convicto de que as vítimas de suas calunias e difamações eram culpadas. Entre os sentimentos que o moviam estavam a inveja e o ódio, portanto, seu gesto não era fundamentado na ética como pensava, mas no profundo desejo de “fazer mal” a quem pudesse incomodar-lhe brilhando mais diante de seus olhos e negra alma. Houve um tempo em que bastava um pequeno elogio e sua auto-estima crescia além do normal. Despeitado e ciente de sua incapacidade procurava em todo canto a compensação de suas deficiências. Viciado no afago de seus superiores sempre estava à caça de um deslize qualquer de seus iguais e quando não o encontrava, inventava, criava… Tudo para estar perto do chefe e receber desse um reconhecimento por tão nefasto serviço. Seus iguais nada faziam, a não ser estender a ele um olhar apiedado de compaixão, como de distende a um moribundo. Pois entendiam eles que o mesmo era um convalescente do espírito, que adoeceu de tanto gerar dentro de si, produtos de um ódio ou qualquer outra má paixão, além do desejo de fazer mal.(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Quando o fofoqueiro foi encontrado em chagas buscava chorar arrependido de sua vida pregressa, mas as lágrimas não lhe vinham à fronte, pois, já o haviam abandonado, além do mais, aquele arrependimento não era sincero, pois continuava possuidor de grande deficiência de atenção patronal afetiva, além de sua incompetência demasiada, fazendo de tudo por um afago no ego, como um cão sem dono, que abana o rabo por um pedaço de salsicha…
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