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O julgamento




Meu EU quer a ausência de si, quer o vazio

Quer o nada, quer doce, não quer pensar

Reclama a suplicar, a berrar que dói pensar

Diz que melhor é ser carregado, conduzido

Quer os braços macios da ilusão, quer calor

Meu EU não quer lucidez, quer ser entorpecido

Quer divagar, quer sonhar acordado, quer ser enganado

Quer o calor do rebanho, quer o anonimato da turba

Quer engordar e apontar o dedo gordo a quem pensa

Quer conduzi-lo aos berros até o julgamento

O crime: atrever-se a se realizar no que ele acovardou-se

O veredicto: frio, solidão e o banimento do rebanho

Que seja ignorado e considerado anti-social

Que sejam fechadas todas as portas em seu rosto

Que seja considerado louco, atrevido e anormal

Que sejam jogados tomates podres em seu corpo

Aos brados de ateu, corruptor da juventude, niilista

E se teimar em apresentar o maldito e perigoso argumento

Se insistir em apresentar defesa

Enterrem-no vivo.

 
 
 

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