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O MUNDO DO HOMEM CURVADO


Sonhei que andava pelas ruas,

Nas quais os homens curvados não olhavam para frente

Enquanto caminhavam, mas para os lados,

Visto que à frente estava a realidade e sua monstruosidade,

Mas, aos lados se projetava sua sombra,

Mais dócil, mais suave.


Vez por outra eles se colocavam de lado para a realidade

E olhavam de soslaio com o canto do olho

Na esperança de que o monstro do real

Já houvesse desaparecido, mas a monstruosidade

Já os havia tragado, regurgitado, mastigado e cuspido.

A posição ereta do homem havia desaparecido,

Uma parábola havia dominado a coluna cervical do esqueleto.


Curvados com a cabeça na altura do próprio umbigo

Caminhavam orgulhosos,

E convencidos da beleza desse orifício

Bradavam solitários:

Em torno disso aqui gira o mundo!


Convencidos de possuírem uma inteligência

Acima da média e independência, não conseguiam andar

Para além dos rastros da multidão de outros solitários,

E assim, pensavam conhecer outros cheiros, outros prados

Mas pisavam sempre onde já haviam pisado.


Quando esbarravam em um homem

Considerado ultrapassado por ser ereto,

O acusavam, julgavam e executavam

Nos tribunais eletrônicos,

Uma espécie de santuário

Em que se diziam livres,

Mesmo escravizados pela luz verde On

E pela luz vermelha Off.


Acordei de sobressalto

E ainda apavorado,

Olhei por minha janela,

E juro pelos deuses On e off,

Que vi na rua mais de uma dúzia

De homens curvados.

 
 
 

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