O MUNDO DO HOMEM CURVADO
- Davi Roballo
- 20 de set. de 2021
- 1 min de leitura

Sonhei que andava pelas ruas,
Nas quais os homens curvados não olhavam para frente
Enquanto caminhavam, mas para os lados,
Visto que à frente estava a realidade e sua monstruosidade,
Mas, aos lados se projetava sua sombra,
Mais dócil, mais suave.
Vez por outra eles se colocavam de lado para a realidade
E olhavam de soslaio com o canto do olho
Na esperança de que o monstro do real
Já houvesse desaparecido, mas a monstruosidade
Já os havia tragado, regurgitado, mastigado e cuspido.
A posição ereta do homem havia desaparecido,
Uma parábola havia dominado a coluna cervical do esqueleto.
Curvados com a cabeça na altura do próprio umbigo
Caminhavam orgulhosos,
E convencidos da beleza desse orifício
Bradavam solitários:
Em torno disso aqui gira o mundo!
Convencidos de possuírem uma inteligência
Acima da média e independência, não conseguiam andar
Para além dos rastros da multidão de outros solitários,
E assim, pensavam conhecer outros cheiros, outros prados
Mas pisavam sempre onde já haviam pisado.
Quando esbarravam em um homem
Considerado ultrapassado por ser ereto,
O acusavam, julgavam e executavam
Nos tribunais eletrônicos,
Uma espécie de santuário
Em que se diziam livres,
Mesmo escravizados pela luz verde On
E pela luz vermelha Off.
Acordei de sobressalto
E ainda apavorado,
Olhei por minha janela,
E juro pelos deuses On e off,
Que vi na rua mais de uma dúzia
De homens curvados.
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