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O PARASITA - PARTE I




Quando Maria de Lourdes soube de sua gravidez, a alegria invadiu sua casa. Nos meses seguintes, não se podia saber se alegria maior era de Lourdes ou de seu marido José Antônio.

Era o primeiro filho de um casal que se considerava moderno e adepto da contracultura. Durante a gravidez planejavam educar a criança fora dos moldes tradicionais, os quais, eles consideravam ultrapassados.


Em suas conversas imaginavam a família estruturada na independência flexível e tolerante, na qual, ficaria eximida a autoridade do pai e a da mãe, ou seja, a família seria gerida por um conselho um tipo de mini comuna em que todos opinariam.


Em todo processo da gravidez, o casal optou por não realizarem ultrassom e outros exames que definissem o sexo da criança, e por Maria de Lourdes gozar de boa saúde, até que no sexto mês de gestação ela passou a sentir dores abdominais insuportáveis.


Ao chegar em um pronto-socorro inconsciente foi levada para UTI. Ao retomar os sentidos foi submetida a vários exames, nos quais, a criança apareceu fundida na carne e músculos da própria mãe. A fusão de mãe e a criança estava tão avançada que se tornou impossível separá-las sem comprometer a vida da mãe e do filho.


Sem alternativas a equipe médica resolveu apenas observar o que ocorreria. No sétimo mês a pele de Lourdes começou a rasgar como se fosse uma estria enorme. O processo seguiu crescendo até que no nono mês a criança eclodiu para fora de corpo de sua mãe sem deixar de estar ligada nela pela carne e músculos, como se fossem irmãos siameses.


Ainda acoplado em sua mãe foi batizado como Jeremias. Com o tempo o corpo do parasita foi se definindo e se separando aos poucos do corpo da mãe, mas durante o processo até seus órgãos se formassem e se tornassem independentes foi alimentado pela corrente sanguínea da mãe. Próximo aos seis anos seu corpo desacoplou quase que totalmente do corpo da mãe, ficou ligado apenas por um cordão umbilical de umbigo a umbigo.


A mãe, devido ao fato de ter vivido mais de seis anos carregando seu filho ligado a sua carne, sentia-se como se ele e ela fossem apenas um ser, tanto, que gerou em Jeremias uma dependência absoluta, visto que, a mãe se identificava com ele a ponto de atender imediatamente suas mais básicas necessidades, tanto, quanto, as mais complexas.

 
 
 

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