O Super-homem
- Davi Roballo
- 8 de out. de 2011
- 3 min de leitura
O Super-homem
Passamos de simples bípedes ignorantes a homo sapiens que utilizando a inteligência criou a extensão de todas as coisas e objetos que lhe facilitam a vida. Segundo o pensamento nietzschiano o homem é um fio estendido entre o animal e o super-homem, não aquele super herói que é vulnerável a criptonita, mas o homem super em êxito e superação.
No cinema, quem melhor interpretou o pensamento de Nietzsche, foi Stanley Kubrick na fantástica imagem que inicia o clássico, “2001 Uma Odisséia no espaço”, quando o ser primata pegando um pedaço de osso percebe que o osso em suas mãos deixava de ser osso para assumir a extensão de seu braço e força, a partir desse ponto a evolução tecnológica do homem caminhou a passos largos.
Chegamos ao século XXI capazes de transplantar órgãos, e também de criá-los sinteticamente. Avançamos no campo mecânico, robótico, cibernético. Mas a essência primitiva ainda que aprisionada, comanda nossa vida. A evolução parece favorecer a tecnologia e o campo intelectual para que se dilatem exponencialmente, mas não abre mão dos instintos de domínio, seja de território ou de grupo.
Quando Nietzsche na obra Assim falava Zaratustra escreveu seu aforismo “o homem é um fio estendido entre o animal e o super homem”, queria em parte dizer que emocionalmente temos os pés ancorados no mundo dos instintos primitivos e intelectualmente temos a capacidade de criar, ousar, se libertar, sermos donos da própria vida. No entanto, não criamos, não ousamos por que isso nos conduz a liberdade. E a liberdade por sua vez nos assusta, pois segundo filósofo, a liberdade tende a amparar-se na solidão e no frio, uma vez que se perde o calor do rebanho.
Os nossos instintos se manifestam de uma forma adaptada a nossa vida em sociedade. Nos primórdios os limites de território de caça e liderança de grupo decidiam-se no tacape, ou seja, na força bruta, imperava assim, a lei do mais forte. Com a organização das sociedades e a criação de leis e códigos de conduta nossos instintos praticamente foram aprisionados, pois uma vez infringida a lei ou um código a sanção viria como exemplo e corrigenda.
No entanto, nossos instintos adaptaram-se e sobrevivem em nós. A violência bruta foi substituída pelo planejamento estratégico mental, ou seja, pela traição, pela violência moral dissimulada, os casos de difamação, calunia, subjugação e coação moral, humilhação e etc., todos a serviço dos hormônios que abastecem a raiva, a vingança, o desejo de posse de liderança, os mesmos hormônios que faziam o homem levantar armas nos primórdios hoje agem silenciosamente com a mesma finalidade, marcar nossa presença por onde passamos, nem que para isso tenhamos de “tratorar” quem estiver pela frente.
Antigamente era a necessidade de dominar um território para exploração alimentar e estender os genes ao máximo possível de gerações (Gene Egoísta), hoje com praticamente o fim dos clãs e fartura de alimentos o objetivo é aparecer, ter para si os holofotes e as benesses e privilégios da fama, da autoridade… Mas, nem por isso deixamos de ser os mesmos animais de outrora.
O super-homem nietzschiano é busca pela erradicação dos instintos vigentes ainda em nós, é o ser virtuoso que cria, o ser que não necessita de muleta, o ser que constrói e domina a si mesmo, que supera a todas as agruras e desafios de cabeça erguida assumindo todos os riscos e responsabilidades, é o ser que caminha com as próprias pernas e não teme o futuro.
Não existe receita para tornar-se um, pois ninguém pode ensinar ser o super-homem, pois cada qual de nós o tem em seu interior, bastando apenas buscá-lo, e acordá-lo da letargia em que nos encontramos imersos nesse mundo moderno, onde vivemos de olho no futuro enquanto o próprio futuro nos consome.
O Super-homem
Kommentare