Para onde vamos?
- Davi Roballo
- 15 de jun. de 2009
- 3 min de leitura

Estamos vivenciando inconscientemente uma corrida alucinada que terá sérias conseqüências ao espécime humano, talvez a própria extinção. Isto é, desde que adquirimos a capacidade de raciocínio, estamos acelerando cada vez mais nossos passos. A isto alguns cientistas chamam de velocidade exponencial, uma vez que dobramos a tecnologia e o conhecimento a cada vez em menor tempo.
Segundo Rose Marie Muraro*, surgimos como seres humanos a aproximadamente dois milhões de anos. Se a idade da Terra, 4,5 bilhões de anos, equivalesse a 24 horas, os nossos dois milhões corresponderiam ao último segundo. Teríamos, portanto, surgido as 23 horas 59 minutos e 59 segundos. Um segundo, essa é a duração da vida da espécie humana em relação à vida como um todo. De um outro ângulo, se colocássemos numa reta esses números que vão de 4,5 bilhões de anos até a data de hoje, os dois milhões de anos do ser humano equivaleriam a 0,05 % do total.
Desde que surgimos como seres capazes de criar passamos por várias fases como a do “sexo ralado”, que refere-se a uma pequena clava usada pelo primata humano para se defender ou atacar. Esta fase foi o despertar da animalidade para a humanidade, foi quando surgiu a cultura, os sistemas, o parentesco, o tabu do incesto, é nela que forma-se a fala, a posição ereta e as primeiras tecnologias. Só nessa fase consumimos três quartos de nossa historia, ou seja, um milhão e quinhentos mil anos.
Posteriormente à fase do “sexo ralado”, imergimos na sociedade da caça, e esse período estende-se mais ou menos por 450 mil anos. Fase importante da existência humana, pois, inventam-se os utensílios de caça, o machado de pedra, em seguida os homens começam a fundir o metal e com essa façanha constroem-se os instrumentos de arar a terra e surgem as primeiras fazendas, cidades-estados, Estados, impérios da Antiguidade. Havia começado a história humana de fato.
Assim, chegamos finalmente na fase moderna, ou seja, nossos últimos oito mil anos. Depois vieram os duzentos anos da revolução industrial, fundamentada na invenção da máquina a vapor que deu origem às fábricas e, portanto, a sociedade urbana industrial. Posteriormente, vieram os 50 anos de revolução pós-industrial e a fase dos computadores inserida nessa velocidade totalmente explosiva em que vivemos agora, ou seja, estamos vivendo a mais extraordinária e acelerada fase da humanidade, tanto que em 1968 a Universidade Carbondale (E.U.A), em estudo cientifico sobre a história humana e sua tecnologia, aponta que 90% de toda invenção humana surgiu nos últimos 100 anos, ou seja, de 1900 a 2000. Diz também que a maioria dos grandes gênios ainda está viva.
Estamos acelerando cada vez mais em direção a uma incógnita. Na década de 1960, o conhecimento científico dobrava a cada 20 anos, nos anos 1990 passou a dobrar a cada 10 anos. Atualmente o conhecimento na área da informática dobra a cada 1,5 anos. Mas, não é somente o conhecimento científico que sofre a velocidade de expansão. A populacional é real e evidente sem necessidades de demonstrações. Levamos dois milhões de anos para atingir nosso primeiro bilhão, em 1850, e, em 2009 estamos na casa dos sete bilhões de seres humanos sobre a Terra, ou seja, em 150 anos a população cresceu sete vezes e as previsões apontam uma população de 12 bilhões já em 2015.
As tecnologias e as transformações ocasionadas por elas nos tem cegado e nos colocam a serviço de uma velocidade que chamamos de “novos tempos”, sem sequer questionarmos qual direção seguir, parece que o mais importante de tudo é remar cada vez mais rápido no mar da vida. Diante dessa aceleração, estamos esquecendo que não poderemos estar aqui para sempre, mas que cabe a nós mesmos prolongarmos o domínio da espécie humana sobre a Terra. Estamos perdendo a noção de que a Terra vive muito bem sem o homem, mas este não vive sem ela.
Na modernidade estamos vivenciando a negação platônica da vida, ou seja, não estamos dando importância a vida aqui agora, mas a vida idealizada “além vida”. Estamos relegando a segundo plano nossa existência. Ainda há tempo, mas é preciso rever nossos conceitos e crenças adequando-os à realidade que nos rodeia e reage em conformidade com nossas ações. Se realmente quisermos ter continuidade, outorgando às gerações futuras a responsabilidade contínua pela manutenção do predomínio humano, sem interferir nas funções do organismo vivo que é a Terra, é preciso tomar uma atitude consciente e critica sobre o que estamos fazendo de nossas vidas e consequentemente decidirmos qual direção nos é favorável, se a continuidade ou a autodestruição…
(*) MURARO, Rose Marie. Textos da fogueira. Letra Viva. Brasília. 2000
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