Pessoas e pinturas
- Davi Roballo
- 8 de fev. de 2011
- 2 min de leitura

O relógio anunciava oito horas quando o ranger da pesada porta do museu abriu-se, adentrando logo alguns turistas que após passarem o átrio impressionam-se com os apreços em exposição. Logo a frente diante de um quadro de Vincent Van Gogh, um casal discutia sobre o valor do quadro original daquela mesma pintura, que era uma copia fiel da obra do artista.
Dizia o homem: como pode haver pessoas que ainda dão uma enorme quantia em dinheiro por uma pintura com traços infantis, contendo deformações nos elementos que preenchem a paisagem? -e apontando para o quadro acrescenta- como estes ciprestes que mais parecem estar em chamas e estas oliveiras com seus ramos totalmente contorcidos…
Por sua vez a mulher redargüiu: não se trata de uma obra qualquer, para julgá-la deve-se em primeiro lugar conhecer a história do artista para entender sua expressão intrínseca através da tinta. Pois Van Gogh preferia pintar as coisas não como elas são, mas como ele as via, ou seja, ele pintava a sua própria realidade. –e apontando para o quadro explica ao homem: Veja os trigais ele os pintou agitados e inquietos, os ciprestes estão trêmulos, aflitivos, há neles muita tensão, as oliveiras estão angustiadas e torcidas, pois era assim que o artista sentia-se interiormente quando pintou esta paisagem, tempos antes de suicidar-se com um tiro no peito neste mesmo campo de trigo…
No quadro da vida a todo o momento somos rodeados de criticas e de conceitos pré-concebidos em relação a nós, como também de nós partem as mesmas insânias em direção a outras pessoas. Como estamos preocupados em manter nosso mundo de aparências, esses deslizes passam quase que despercebidamente no desenrolar de nosso cotidiano. Então julgamos as pessoas pela forma de expressar-se, de vestir-se, de caminhar etc. e deste modo, pouca ou nenhuma importância damos aos que nos falam ou sugestionam, porque já os julgamos pelo rótulo, sem preocupar-nos em procurar saber um pouco mais do histórico sociocultural, antes de entregar-se a mesquinhez do preconceito.
No rol de nossos dias por andarmos num frenesi alucinado instigado por nossa vaidade, não medirmos nossos atos, machucamos pessoas próximas de nosso convívio em todas as esferas, simplesmente por nos colocarmos num patamar acima do bem e do mal, esquecendo-se de nossa condição de perfectíveis sujeitos a erros. Por falta de conhecimento dos valores inerentes a cada pessoa avaliamos os erros alheios sem levar em conta a gênese desencadeadora do desequilibro evidente de cada situação, que se apresenta, passando a considerar somente o deslize, olvidando as qualidades e as aptidões dos que nos rodeiam…
Atualmente estamos tão preocupados em acompanhar a velocidade do mundo, que, com seus tentáculos rouba parte de nós a todo o momento, aguçando nossa ambição e cobiça de consumo, que estamos perdendo a magia de interpretar os quadros pintados pela vida ao nosso derredor a todo o instante.
Não estamos tendo nem mesmo tempo de avaliarmos as pinturas que estamos deixando por onde passamos que muitas vezes são a origem das criticas e conclusões precipitadas disparadas ao nosso encontro, que por orgulho e demasiada vaidade devolvemos aos que compreendem os espaços por onde andamos, por ainda não encontrarmos dentro de nós hombridade suficiente para assumir nossos atos e desatinos…
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