Radiografia
- Davi Roballo
- 29 de mar. de 2013
- 2 min de leitura

Nas reminiscências, o ontem se transforma no agora,
Cá estou a caminhar mirando sempre o devir
Na busca de um sol para aquecer minha pele
E construir minha liberdade.
Como uma águia inda busco desde sempre
Rasgar horizontes de minha história.
Montado em meu egoísmo em par com meu orgulho equidistante,
Conduzo-me pelo azedume da vida;
Essas duas difamadas formas abstratas,
Que tentei por várias vezes acoimar e ignorar,
Mas, isto se tornou em meu ser uma violentação,
Um sentimento pungente a trincar os espelhos d’alma minha…
Amadurecido convenci-me, que delas brotam
Os grandes impulsos dos espíritos fortes e livres
Na odisseia da existência,
Que é delas que jorra a fonte que sacia a vontade de vida…
Demasiado experimentado pelas ocasiões desafiantes,
Que exigiram e inda exigem destemor e vontade desapaixonada
Em libertar-se dos encardumes, que se fixaram em meu inconsciente,
Fruto do meio onde brotei na paisagem,
Inda caminho sedento de luz e paz
Como uma ave que arrebenta a jaula
E volta ao calor de seu ninho.
Ao longo de minha trajetória pelos ermos caminhos da evolução cognitiva,
Meus olhos límpidos perscrutam os mais longínquos horizontes,
Meus ouvidos decifram as mais belas canções
E ignoram as desprovidas de sentido lógico…
Aprendi a selecionar meu próprio alimento ao libertar-me da condição ovina,
Este pendor que só estagna e amorfia o espírito,
O qual a cada passo perde sua condição de ruminante
E embasado por seu arcabouço de experiências
Digere rapidamente as coisas inteligentes, seu cardápio seleto…
Os caminhos e paisagens por onde andei parecem-me distante,
Longe na imensidão perdida, apenas gravada na lembrança,
Como se um outro personagem que não fora eu, os tivesse percorrido.
Torna-se nessa altura, inacreditável a situação de que fora realmente eu,
Que por ali passei,
Que aos ouvidos do vento falei,
Que construí castelos na areia,
Que destruí meus ídolos e deuses…
É como não aceitar que a arvore frondosa que me tornei com o tempo,
Já fora um dia semente…
Longe estão já meus passos incertos,
Atrás jazem as pegadas desencontradas,
Indecisas e inseguras sustentadas pela dúvida.
Nas caminhadas, nos desertos que atravessei,
Nos mergulhos em mares abismais onde me precipitei,
Nas regiões níveas onde hibernei,
Firmaram-se como um cerne meus nervos,
Meus músculos e meus ossos,
Que apontam nessa altura da comédia humana
Para uma direção resolvida.
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