Rituais fúnebres da educação
- Davi Roballo

- 18 de out. de 2011
- 3 min de leitura
Rituais fúnebres da educação
A nossa volta tudo muda, tudo se transforma, tudo se adapta. Nos primórdios com a descoberta da roda fizemos dela a extensão de nossos pés, inventamos a carroça, o automóvel, o trem e os ônibus espaciais que nos levaram a lua. Inventamos o telefone e posteriormente o celular que são a extensão de nossa fala. Chegamos a esse ponto por que fomos especializando- nos e buscando cada vez mais facilitar a vida.
Hoje não se faz café como há cem anos, não se usa mais o telégrafo, disco de vinil, cinema mudo, não conduzimos os mesmos automóveis, mas sim modelos mais sofisticados, por que tudo muda, tudo se transforma, no entanto, esquecemos -ou nos fizeram propositalmente esquecer- uma das partes mais importantes de nossa existência… a educação que continua com os mesmos métodos e práticas de tempos idos, usando o mesmo quadro e o mesmo giz.
A educação encontra-se parada no tempo como uma velha casa abandonada que a cada chuva e dia de sol apodrece um pouco mais. Enquanto isso, o estudante tem em sua realidade, o vídeo game, o celular, a internet e as comunidades virtuais. Tecnologias e mídias que domina como ninguém, mas tem de ir a escola de má vontade olhar para um quadro negro, escrever num caderno assuntos que não interagem com sua realidade. Os meninos e meninas sentem-se desestimulados, como se abandonássemos nossos confortáveis carros e voltássemos a andar de carroça.
O sistema pelo que parece não quer de forma alguma produzir uma massa crítica, para isso aliena-nos, mutila-nos. Comete esses crimes silenciosamente através da educação, a única forma que o ser tem de interagir verdadeiramente coma vida e com o mundo. Augusto Cury diz que no pré-escolar somos assassinados e na universidade rezam nossa missa de sétimo dia. Acredito nisso. No entanto, acrescento que somos velados no ensino fundamental e enterrados no ensino médio.
O assassinato no pré-escolar acontece quando os professores da forma como foram podados, podam a capacidade perquiritória da criança que tolhida recolhe-se e passa apenas a seguir os passos condicionados como prescreve a cartilha, deixando para trás a sua capacidade de imaginar, criar e desvendar o mundo, que passa a ser-lhe entregue desenhado com a mesma cara que é entregue aos colegas, sufocando e pisoteando assim sua individualidade.
O velório no ensino fundamental dá-se por que os mestres estão desestimulados e os alunos desinteressados, pois o que são não possui vida, nada é atrativo e então comportam-se como viúvos, viúvas, filhas e filhos de luto que perdem o interesse por um tempo, no caso da educação o luto já é crônico. Choram e vivenciam um luto de si mesmos, pois ambos deixaram de interagir com o mundo, com a vida, são zumbis que ainda não sabem que intelectualmente morreram.
No ensino médio onde a oportunidade de acordar da letargia em que entram se perde na dialética dos mestres que como Morpheu em Matrix, tem em mãos a pílula azul da letargia e a pílula vermelha da realidade, no entanto, como só conhecem a pílula azul é essa que administram a seus alunos que na maioria são enterrados para sempre. Poucos são os que comparecem a própria missa de sétimo dia da universidade.
A missa de sétimo dia acontece na universidade como um último ato da educação não crítica, que como as demais fases, continua a nos iludir, ou seja, a universidade prega que nos prepara para a vida, mas na verdade é a ultima mentira que o sistema emprega para desviar nossa atenção enquanto nos transforma em máquinas, em mão de obra de um mercado cada vez mais voraz e exigente.
Os professores não têm noção do papel e da importância que tem como educadores e agentes capazes de mudar o mundo, bastando para isso, acordar para a realidade num processo de contagiante e alegre de amor pela vida, amor por ensinar. Tem de ser capazes de devolver aos alunos a criatividade, a imaginação; a magia perdida, podada, tolhida. Para isso, a sala de aula deve transformar-se em uma seara de dúvidas, perquirições, discussões, investigações e cultura sadia e mais que tudo é preciso adentrar o mundo do aluno, despertando nele interesse e participação efetiva nas discussões. Somente assim poderemos curar a cegueira do mundo.
Rituais fúnebres da educação




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