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Sapiens, mas nem tanto…


Desde que sai do mato

Venho perdendo

Pelo caminho meu olfato,

Venho tragando ilusões,

Venho contaminando meu palato.

Desde que sai do mato

Venho turvando minha visão,

Venho corrompendo minha alma,

Venho entulhando minha audição.

Desde que sai do mato,

A natureza não me abandonou,

Mas venho aos poucos

Abandonando o macaco que sou,

Para na selva de pedra sobreviver,

Vou iludindo-me que estou a viver.

Desde que sai do mato

Perdi a noção de Ser,

Vivo a juntar pedras

E outras inutilidades,

Pois fora da floresta

O mais importante é o Ter.

Desde que sai do mato

Perdi a alegria livre de um pôr do sol

Tingindo o céu logo ao entardecer,

Mas ganhei da noite a melancolia,

E a solidão dos acompanhados

Que carregam nos olhos

Esse triste entristecer.

Desde que sai do mato

Tenho me preocupado mais comigo,

Pois descobri que o centro do mundo

Localiza-se onde está meu umbigo.

 
 
 

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