SONHOS E DELIRIOS
- Davi Roballo
- 19 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
Meus sonhos e meus delírios vão mudando, andando com as próprias pernas, hoje pinto uma paisagem, amanhã ela já é outra, oportunidade em que percebo que já sou outro, porque tudo muda, tudo se transforma.
Há dias em que vejo velhos casarões entre as paisagens que se desenham por debaixo de um céu azul, também percebo nostálgicas esculturas de mim mesmo aterradas em imponentes jardins sem saber se eu cruzo por eles ou eles cruzam por mim.
Não sei se ando por meus sonhos e delírios ou se eles andam por mim.
Há dias em que acompanhado pelo sol percebo uma infinidade de mistérios pairando sobre meu ser, no entanto, por aonde ando dificilmente estou, geralmente me encontro longe em alguma gleba de delírios e fértil imaginação a semear estrelas para parir novos horizontes.
Sou aquilo que sou, mas às vezes deixo de ser, deixo de existir, apenas passo a viver, porque quando se vive tudo gira em torno da natureza e de Deus, enquanto se é embalado pelos mistérios sem se importar em sabê-los.
Às vezes quando me dou por mim já é madrugada e todos já foram dormir, pois somos muito frágeis para ver e suportar a navalha da realidade dilacerando convicções por um período prolongado.
Amo a noite, tenho com ela uma relação promíscua e santa. Meu amor está nas asas da penumbra e do silêncio noturno, com as quais o tempo voa lentamente. Acredito que até mesmo Cronos se apaixonou pela noite e passeia com ela pelas estrelas vagarosamente.
Amanhece e posso perceber os dias que me faltam todos amontoados no horizonte de minha própria história. A cada dia, eles – os meus dias –, se tornam mais escassos, vão sumindo feito barco que ruma ao centro do oceano e é engolido pela linha que separa o céu das águas do mar.
Um dia serei apenas uma lembrança que por cá esteve, depois, nem isso, pois o tempo corrói tudo, nem mesmo a Terra será um planeta para sempre.
Terei ultrapassado a porta dos mistérios, deixarei para trás meus dias repletos de sonhos e delírios e muito pouco do real, já que pouco aspiramos dele, ao contrário, estamos sempre a fugir da realidade, pois ela costuma castigar e matar mais lentamente que um amor não correspondido.
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