top of page

A DANÇA A DOS MIL ESPELHOS

Atualizado: 13 de jul.


ree


Não busquem rastros na areia por onde caminhei ontem, nem tentem capturar o reflexo daquele que hoje se revela. Sou como a duna que o vento remodela a cada sopro — eternamente a mesma, eternamente outra. Minha essência dança com o ritmo cósmico, e cada aurora desperta em mim um peregrino desconhecido.


O horizonte guarda segredos que nem eu ouso desvendar. Além daquela linha onde o céu beija a terra, há uma cortina tecida pelos fios do mistério, onde se escondem as respostas que minha alma busca. Amanhã serei outro viajante nesta estrada sem fim, carregando apenas o eco do que um dia pensei ser.


Meu espírito não conhece fronteiras nem prisões. Vago pelos desertos da consciência, atravesso os oásis do pensamento, subo às montanhas da contemplação. Por isso, quando me procurarem, saibam que habito o espaço entre o visível e o invisível, semeando estrelas nos jardins secretos da existência.


Não me perguntem quem sou, pois esta tem sido minha mais longa jornada — encontrar-me no labirinto de mim mesmo. Cada vez que creio tocar minha verdadeira face, ela se dissolve como miragem no deserto, deixando apenas o perfume de uma presença que nunca se entrega completamente.


O que chamo de "eu" é como a sombra de uma nuvem passageira — efêmera, mutável, impossível de se apreender. Em um único dia, nasço e morro mil vezes, deixando pelo caminho fragmentos de almas que um dia habitaram este corpo nômade.


Deveria ter asas para acompanhar este ser que salta de estrela em estrela, rindo com a ternura de quem compreende a divina comédia da existência humana. Que belo paradoxo: ser não sendo, existir na impermanência, encontrar a eternidade no instante que passa.

Assim flui o rio da vida, e eu, seu humilde navegador, me deixo levar pela correnteza do infinito, sabendo que a única constante é esta sagrada transformação.


_____ Zarif Khalid \ heterônimo peregrino errante de Davi Roballo

 
 
 

Comentários


bottom of page