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TERROR NOTURNO



Havia um homem velho dado por louco, que nas madrugadas saía a caminhar perturbando o sono e ninguém conseguia dormir.


Ele possuía o rosto de todos ao mesmo tempo que não possuía o rosto de ninguém.


Ia sempre pelas ruas a falar em alto tom, praticamente gritando:


– Eu não confio em ninguém a não ser em mim mesmo, pois eu ainda mantenho poder sobre aquilo que até agora penso ser eu.


– Prefiro andar nas madrugadas, porque durante o dia as ruas estão repletas de fantasmas.


– Eu, desde que meu olho amadureceu consigo ver coisas terríveis sob a luz do sol, coisas que olhos jovens e sem treino de vida não conseguem.


– É preciso várias máscaras para poder conviver com as pessoas e suportá-las, por isso ando pelas madrugadas sozinho e a esmo, pois não consigo mais fixar outras fisionomias sobre minhas próprias rugas.


– Já vivi entre as pessoas iludido por suas aparências, mas virei misantropo, um anacoreta, pois cansei de alertá-las sobre a miséria em que vivem, mas elas preferiram continuar sonhando o sonho daqueles que negam essa vida em troca de uma incerta vida futura, gente que até mesmo quando cai em um poço, cai de ponta cabeça e continua cavando.


Um dia qualquer apareceu naquele vilarejo um farmacêutico que vendia medicamentos para dormir e todos se medicaram, com isso, o homem velho sumiu e todos puderam dormir sossegados, tendo como travesseiro suas ilusões, mas quando alguém esquecia da pílula, o velho aparecia gritando ainda mais alto...

 
 
 

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