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UM HOMEM SINCERO

Atualizado: 15 de jul. de 2021


Havia um homem sábio

Que após muitos anos de exílio e meditação,

Não conseguia mais mentir sequer uma pequena mentira.

Um dia ele saiu pelo mundo trocando o nome das coisas

Que julgava terem sido batizadas por engano.


Chegou logo em uma fazenda

Em que se reuniam batedores de carteira,

Não houve sequer uma dúvida,

Os chamou logo de Políticos.

Os cães pastores ele batizou como Ética, Moral e Religião

E meneando a cabeça chamou as ovelhas de Povo.


Foi aos confins da terra, onde está a risca

Que separa a lucidez da loucura

E em cima dela colocou uma poltrona

A qual chamou de Filosofia,

E ao homem acomodado nela

Com o semblante triste

Por ter perseguido a verdade

E olhos mortos devido ao

Convívio com a realidade,

Chamou de Filósofo.


Andou por todas as cidades

E nos hospícios escreveu em placas enormes:

Aqui estão confinados aqueles que detém a lucidez,

Já os loucos estão todos pelas ruas soltos

Jurando serem lúcidos de tão loucos.


Certa vez em uma esquina ouviu a direita

Um pastor administrando um culto

E a esquerda um padre em sua homilia.

Ambos falavam de paz e amor,

Enquanto esvaziavam os bolsos daquele povo.

O Velho suspirou e exclamou:

Dai de graça o que de graça recebeste,

Porcos Usurpadores!


Logo a sua frente, em uma praça pública

Avistou um homem sem pernas, com um tapa olho

E portador de uma miopia severa no outro,

Mesmo assim, ele vivia a bater nas pessoas

Que não lhe davam dinheiro.

Sem pensar duas vezes

O Velho falou para si mesmo:

Eis aqui o mau Jornalista.


Em frente a um prédio suntuoso

Avistou uma mulher de boa fisionomia

Toda vestida em branco

E com comportamentos estranhos:

Isto é, beijava a bunda e os pés dos ricos

E vez por outra, quando havia muita gente observando

Ela acariciava rapidinho a cabeça de um pobre.

O Velho sem receios a chamou de Justiça.


Ao sair da cidade encontrou um homem nu

Cantando e dançando entre a poeira que levantava dos pés

E cães que o acompanhavam felizes

Como se ele fosse um deus, uma mistura

De louco e de santo.

O Velho disse a si mesmo:

Eis aqui um Poeta de verdade,

Alguém que prefere a companhia de cães,

Porque se cansou dos homens.

 
 
 

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