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Uma pequenina flor


Lembro como se fosse hoje:

Estava sentado

Na beira da calçada

Petrificado com a imagem

Daquela flor, tão simples

E tão bela ao mesmo tempo,

Surgindo de uma frincha

No concreto duro e frio

Para beijar o sol e encantar

Quem a olhasse como a olhei.

Não lembro o que se passou

Naqueles dez ou quinze minutos

De êxtase, de magia,

Em que estive na flor,

Pois ela passou a estar em mim,

Pois tudo sumiu,

Passado, futuro

Tudo era agora,

Nem mesmo eu estava lá

Mas outra parte minha,

Talvez a criança que submergiu

Do exílio nas profundezas da alma

E através dos olhos

Veio beijar aquela flor

Para mostrar ao meu EU

Egocêntrico, narcisista

Que toda a beleza e grandiosidade

Do Mundo estão nas pequenas coisas,

Nas pequenas gentilezas e atitudes…

Bastou uma poça d’água

E um motorista descuidado

Para tirar-me da contemplação

Jogando-me molhado no rio da realidade

Onde ainda meio atordoado,

Senti vergonha de mim…

 
 
 

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