VELHA ESTRADA
- Davi Roballo
- 6 de out. de 2021
- 2 min de leitura

Certo dia um menino descalço e nu
Começou a caminhar por uma
Estrada de pedras já desgastadas
Por tantos pés, cascos e rodas
Que por lá cruzaram,
Como cruzam as águas de um rio
Ante um pescador que alheio
Não percebe diante de seus olhos
O movimento da vida sob
As engrenagens do universo.
O menino caminhando
Foi deixando de ser menino
Trafegando estradas velhas
Que muitos dizem ser novas.
Com o tempo, castigado pelo sol
Começou a ouvir velhas canções
Que emergiam das profundezas do passado.
Noutras vezes sentia sobre a
Própria pele o roçar
Das velhas engrenagens que vão e retornam
Esmagando os dias que apagam
Tudo aquilo que por instantes
Pareceu eterno.
Assim foi o menino
Se constituindo homem
Cravejado de experiências
E decepções enquanto apanhava da vida.
Caminhou sempre descalço
Sobre a pedra quente, às vezes fria,
Simplesmente por as pedras serem inúmeras
Ele sequer as via ou sentia,
Visto que o homem
Em sua mais profunda procura,
Busca sempre a unicidade,
Sendo assim, só valoriza aquilo
Que for exclusivo, aquilo que for único.
O menino homem trafegou
Até o fim dessas velhas estradas
Em que a contragosto ou resignados
Todos, sem exceção trafegam.
Quando atingiu o fim de sua estrada
Já se encontrava cansado
E totalmente esgotado
Sentiu sono.
Um sacerdote foi chamado antes
Do menino homem
- Já com os cabelos brancos – adormecer.
Perguntou-lhe o vigário:
Algum arrependimento?
Em seu último fôlego
Sua voz feito névoa de aurora respondeu:
Sim, eu devia ter errado mais,
Só agora percebo essa bobagem
Castradora do errar menos...
Deitou-se na relva e adormeceu,
Adormecido desapareceu,
Como desaparecem as dores e as alegrias
Que evaporam nos sopros do tempo.
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