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VELHA ESTRADA



Certo dia um menino descalço e nu

Começou a caminhar por uma

Estrada de pedras já desgastadas

Por tantos pés, cascos e rodas

Que por lá cruzaram,

Como cruzam as águas de um rio

Ante um pescador que alheio

Não percebe diante de seus olhos

O movimento da vida sob

As engrenagens do universo.


O menino caminhando

Foi deixando de ser menino

Trafegando estradas velhas

Que muitos dizem ser novas.

Com o tempo, castigado pelo sol

Começou a ouvir velhas canções

Que emergiam das profundezas do passado.


Noutras vezes sentia sobre a

Própria pele o roçar

Das velhas engrenagens que vão e retornam

Esmagando os dias que apagam

Tudo aquilo que por instantes

Pareceu eterno.


Assim foi o menino

Se constituindo homem

Cravejado de experiências

E decepções enquanto apanhava da vida.


Caminhou sempre descalço

Sobre a pedra quente, às vezes fria,

Simplesmente por as pedras serem inúmeras

Ele sequer as via ou sentia,

Visto que o homem

Em sua mais profunda procura,

Busca sempre a unicidade,

Sendo assim, só valoriza aquilo

Que for exclusivo, aquilo que for único.


O menino homem trafegou

Até o fim dessas velhas estradas

Em que a contragosto ou resignados

Todos, sem exceção trafegam.


Quando atingiu o fim de sua estrada

Já se encontrava cansado

E totalmente esgotado

Sentiu sono.


Um sacerdote foi chamado antes

Do menino homem

- Já com os cabelos brancos – adormecer.

Perguntou-lhe o vigário:

Algum arrependimento?

Em seu último fôlego

Sua voz feito névoa de aurora respondeu:

Sim, eu devia ter errado mais,

Só agora percebo essa bobagem

Castradora do errar menos...


Deitou-se na relva e adormeceu,

Adormecido desapareceu,

Como desaparecem as dores e as alegrias

Que evaporam nos sopros do tempo.

 
 
 

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