VITRINE
- Davi Roballo
- 27 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de mar. de 2022

A vida, Esse teatro de vitrine, sem ensaios E sem plateia, no qual o ser humano Mendiga aprovação e aplausos de outros seres humanos, Que cegos, surdos e mudos Não percebem que estão a comungar O mesmo desejo e o mesmo espaço, Que abriga ossos e cadáveres De outros que por ali Em outras épocas encenaram, Acreditando serem eles Os únicos certos.
A loucura que veste o corpo, Não mais somente para protegê-lo do frio, Mas para impressionar e servir de isca a outros olhos, Como a carne dependurada no açougue Fisga o estômago através dos olhos.
A loucura expõe todos na vitrine da própria vida, E os mergulha no desejo de olhos alheios, Por isso ela é sedenta por casarões, Motores, brilho, evidência, fama e status, Tanto que, nem mesmo o altruísta Escapa dela, Pois, sua forma de vida é um desejo profundo Por evidência, como se a todo o momento dissesse: Vejam só, como sou desprendido e bonzinho.
No palco da vida desfila a contradição Em que vive mergulhado o ser humano, Isto é, fugir de outros seres humanos Ao mesmo tempo em que busca se aproximar deles, Pois, há um desejo de liberdade, No entanto, também existe um preço alto por isso, Ou seja, carregar sozinho a própria carga, Mas, a bem da verdade, Ninguém consegue atravessar um largo rio Sem que alguém o incentive na outra margem.
Os deuses e os anjos Devem rir à beça dessa humana Ingenuidade, desse desejo humano Em ser visto, em ser notado na vitrine do mundo, Enquanto a loucura molda com as mãos A presunção desmedida, Que grita a todas as direções do vento, Que o homem é o ser especial e dominante, Enquanto a ferrugem, a maresia, o vento e o tempo Continuam comendo seus músculos, sua carne, seus ossos E seu rastro.
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